segunda-feira, 15 de junho de 2015

PT sem petismo


A história do PT guardará o nome de João Vaccari, ex-tesoureiro do partido, preso por envolvimento com corrupção na Petrobras.

Ele foi citado na abertura e no fechamento do 5º Congresso do PT, em Salvador.

Na quinta-feira à noite, lembrado por um militante, Vaccari ganhou três minutos de aplausos.

No sábado à tarde, elogiado por Rui Falcão, presidente do partido, foi de novo demoradamente aplaudido.

Nenhum dos 720 congressistas mencionou os nomes de José Dirceu, ex-ministro de Lula, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, ambos condenados como mensaleiros. Foi como se jamais tivessem existido.

Quanto à corrupção, assunto incômodo para petistas de todos os matizes, nada se discutiu no congresso. Por isso ficou de fora da “Carta de Salvador”, documento com 3.834 palavras.

Um anexo à “Carta” reuniu as 13 resoluções aprovadas pelo congresso. Com 4.730 palavras, dedica à corrupção menos de 600. Dessas, 415 se ocupam do que os governos do PT fizeram para combatê-la.

As demais informam que o partido promoverá uma campanha de comunicação a respeito. E criará um grupo de "juristas progressistas" para refletir sobre o papel da Justiça “na criminalização da política, dos partidos e dos movimentos sociais”.

O congresso ensinou ou reforçou duas coisas: o PT está longe de morrer como querem seus adversários. E longe de voltar a se parecer com o que foi.

Congresso de partido por aqui se resume a aclamar seus líderes e a deliberar sobre o que eles propõem.

Em Congresso do PT, a discussão corre solta. Quem tem mais votos, leva. E, salvo Lula, os demais líderes não escapam a duras críticas.

Entenda-se por petismo um conjunto generoso de valores, princípios e boas ideias que foram desprezadas tão logo o partido chegou ao poder.

Ou antes, quando Lula concluiu que para o PT chegar lá precisava jogar conforme as regras do jogo. Para tal orientou Dirceu.

O partido fez concessões reprováveis. Desfigurou-se. Mergulhou na lama. E está ameaçado de perder sua base social.

O PT não está apenas “machucado” como admite Lula. Atravessa a pior crise dos seus 35 anos.

Reelegeu Dilma pelo pau do canto. E à custa de um formidável estelionato eleitoral.

Nem Fernando Collor, deposto por corrupção, foi tão impopular quanto Dilma é.

Os 30% dos brasileiros que preferiam o PT se reduziram a 5%. O partido perdeu o monopólio das ruas desde 2013.

Parte dos petistas que não se reconhece no atual PT alimentou o sonho de que o 5º Congresso pudesse marcar o início da reconciliação entre o partido e o petismo. Pois sim...


Obediente a Lula, a tendência majoritária impôs sua vontade sem ceder em absolutamente nada. De resto, algemou o partido ao governo. Optou assim pela paralisia.

Foi o triunfo da insolência burra.

Envelhecido, o PT avisou aos eventuais interessados: “Quem quiser venha conosco pelo que fizemos até aqui, e que já foi muito”.

Não acenou para eles: “Quem quiser venha conosco pelo que já fizemos e pelo que ainda pretendemos fazer”.

A saber: isso, aquilo e aquilo outro. Tópicos de uma nova agenda capaz de atrair uma nova esquerda e de agradar aqueles à procura de uma ideologia.

Na véspera da instalação do congresso, a propósito de meios para financiar campanhas, Jaques Wagner, ministro da Defesa, disse que o PT não é melhor do que os outros. Portanto, não deve recusar dinheiro de empresas privadas.

Ora vejam! O PT que há 12 anos se apresentava como um partido diferente dos outros suplica, agora, para ser tratado, pelo menos, como igual aos outros.

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