Parte da área do Parque Olímpic 2012 foi transformado em parque |
No dia em que os Jogos de Londres acabaram, em 2012, a capital britânica já tinha um plano cuidadosamente traçado e um órgão público pronto para conduzir o legado olímpico.
Mas, ainda que as autoridades tenham conseguido revitalizar uma área degradada, que por anos carregou a fama de violenta e de mal servida de serviços e transporte públicos, nem tudo saiu exatamente como planejado.
"Há muito mais acerto que erro. Mas há coisas negativas, em especial relacionadas aos que moravam na região antes das intervenções e acabaram sendo pressionados a sair, a ir embora", observa Eduardo Fraga, empreendedor cultural que teve a oportunidade de acompanhar neste ano o trabalho da empresa pública criada exclusivamente para executar o projeto do legado.
A BBC Brasil conversou com especialistas e moradores da região de Stratford, no leste de Londres, sobre o legado dos Jogos de 2012.
Transporte, limpeza e o parque público, ainda que tenha que se pagar para usar a piscina olímpica e a pista de ciclismo, são apontados como heranças bem sucedidos da última Olimpíada. Ainda assim, há elefantes brancos e promessas não cumpridas.
O destino da vila dos atletas e dos novos empreendimentos erguidos nos arredores do Parque Olímpico é um dos itens da lista do legado que atraem duras críticas.
A promessa de manter 50% das moradias (não apenas da vila mas também as construídas ao arredor do parque) na categoria "economicamente acessível" não foi integralmente cumprida. A área atraiu novos investidores e moradores, o que fez o preço dos imóveis subir e acabou pressionando as autoridades locais a mudarem os planos.
Atualmente, cerca de 30% das moradias estão destinadas ao público mais carente com os chamados aluguéis sociais, além da compra compartilhada na qual o poder público ajuda pagando parte do imóvel e que atenderia a profissionais com renda mais baixa como policiais, bombeiros e enfermeiros.
Promessa de manter 50% dos imóveis "economicamente acessíveis" foi descumprida |
Omena pesquisa táticas de dominação para conduzir processos de remoção de moradores e estudou o caso de Londres. Ele diz que na área do parque olímpico foram destruídos dois acampamentos de ciganos, que acabaram sendo desmembrados e levados para quatro outras áreas, 450 unidades habitacionais destinadas a solteiros em situação vulnerável, uma horta e um jardim comunitário, além de uma moradia universitária.
"Existia um senso de comunidade ali que acabou sendo perdido", salienta o pesquisador, lembrando ainda que não se criaram tantos empregos quanto os prometidos.
"Essa conta exata dos empregos gerados e dos perdidos ainda precisa ser feita", diz Omena, observando que o shopping construído na região já estava previsto antes dos Jogos, mas ajudou a absorver parte da mão de obra local.
A área foi de fato revitalizada, ainda que não fosse um espaço totalmente abandonado. Hoje não há nada que remeta à pilha de geladeiras enferrujadas um dia fotografada bem no local onde foi construído o Parque Olímpico.
Ganhou uma eficiente rede de transporte, prédios novos e Parque Olímpico foi reformado, mantendo alguns dos equipamentos onde atletas competiram, oferecendo uma imensa área verde, fontes que funcionam no verão e charmosos passeios nas beiras dos canais.
Com tudo limpo e novinho, acabou atraindo interesses e pessoas de outros lugares.Image captionCom tudo novo, bairro ficou caro - muitos moradores não estão conseguindo continuar ali
O estudante brasileiro Danilo Freire foi um dos que foram morar próximo ao Parque Olímpico, num alojamento para universitários.
"Quando eu cheguei a Olimpíada já havia terminado, então eu não passei pela fase de construção, mudanças. As moradias são novas, e os preços são altos. Como o bairro é mais pobre do que a média, ficou ainda mais difícil de comprar uma casa legal na região", conta Freire.
Ainda que duas universidades tenham planos de construir unidades na região e o museu Victoria & Albert se prepare para abrir uma unidade ali, muitos dos locais não estão conseguindo se manter na vizinhança e, assim, deixam de desfrutar do legado diariamente.
Havia uma pista de ciclismo pública, mas que agora tem acesso limitado a quem paga - uma hora custa 40 libras (R$ 172) e paga-se 15 libras (R$ 64,50) para usar a de mountain bike. A preço da piscina é 5 libras (R$ 21,50) para adultos nadarem por uma hora.
"Houve a privatização de equipamentos públicos", lamenta Omena, que questiona a prometida "mobilidade social" aos que ali moravam.
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