Muito dinheiro, é verdade. E um caso revelador do modus operandi do sistema político brasileiro, fundado no financiamento privado das campanhas eleitorais. Ou, como confessou Paulo Roberto Costa: “Não existem doações de campanha, só empréstimos a juros altos”. Mas, evidentemente, não é por aí que vai a exploração midiática do caso .
O mais impressionante é que, no final de março, há menos de quinze dias, explodiu um escândalo de proporções maiores que o da Petrobras, mas alvo de cuidadosa blindagem. A operação Zelotes da Polícia Federal descobriu um esquema de desvio de recursos públicos por grandes empresas
Operado através do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), com a mediação de escritórios de advocacia, empresas conseguiam anular ou reverter multas bilionárias com o poder público, mediante propinas a conselheiros. Estão sob investigação mais de 70 companhias, totalizando um desvio de R$ 19 bilhões. Quase dez vezes o valor desviado da Petrobras.
Apenas o montante do maior processo, do banco Santander, é de R$ 3,34 bilhões. O segundo maior, do Bradesco, é de R$ 2,74 bilhões. Cada um deles, sozinho, supera os R$ 2,1 bilhões da Petrobras. Somente os 12 casos em que a Polícia Federal detém provas mais conclusivas –incluindo os dois bancos citados– representam um rombo de R$12 bilhões aos cofres públicos.
Um deles é o do grupo de comunicação RBS, a maior afiliada da Rede Globo, investigada na Zelotes pela fraude num processo de R$ 671 milhões.
Corrupção graúda, protagonizada por magnatas das finanças e do mundo corporativo. Mas onde estão as manchetes histriônicas? E o som das panelas? Seria pedagógico para o país ver multidões de verde e amarelo manifestando-se em frente ao Santander, pedindo nosso dinheiro de volta. Só que não.
Nem no Santander, na Gerdau, no Bradesco e na Ford. Nem no Safra, na Mitsubishi. A Mitsubishi, tão limpinha! Essa é a imagem do setor privado no Brasil, sempre positiva, apresentado como alternativa à roubalheira no setor público.
A preservação desta imagem, mesmo após escândalos como o da Zelotes e do HSBC, só se explica pela blindagem que os grandes grupos econômicos conseguem garantir junto à maior parte da mídia, da qual são também poderosos anunciantes.
É inaceitável que os grandes corruptores continuem tendo suas identidades preservadas e tratados como coadjuvantes, mesmo sendo desde sempre os maiores beneficiários dos esquemas.
São ladrões blindados. Saem da lama limpinhos e cheirosos. E se, por descuido, vier algum respingo à marca, nada que a próxima campanha publicitária –quiçá paga com dinheiro desviado da Receita– não possa resolver.
Denúncias seletivas, indignação seletiva e acusados seletivamente blindados. Essa é a turma que fala em limpar o Brasil da corrupção?
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