Mas isso não fará diferença. Importa que o que ele fez comprovou que a semente do ódio plantada pelo bolsonarismo, e regada pelo jardineiro-mor, segue viva graças, em parte, à lentidão da justiça. Ela agiu com rapidez para punir os bagrinhos do golpe fracassado do 8/1; quanto aos peixões, sequer foram denunciados até hoje.
Foi bonita a festa, e ilusória. Deu-se a democracia como salva, exaltando-se a solidez das instituições. Os chefes dos três Poderes desfilaram de mãos dadas para celebrar a vitória robusta do bem contra o mal. Golpe nunca mais! Os culpados serão condenados e presos, e a paz restabelecida. Então, bola pra frente.
Vê-se que por um breve período não mais se falou que a democracia é uma planta frágil que precisa ser regada o tempo inteiro; e que o golpismo não morreu, jamais morrerá em lugar algum como meio de se conquistar o poder, muito menos em terras em que se plantando tudo dá e viceja com exuberância.
Foram quatro anos de pregação quase diária a favor do uso velado ou acintoso da força como solução para os problemas do país. Nem os generais-presidentes do ciclo de 64 ousaram chegar a tanto; quando nada, preservaram certos ritos da democracia suspensa para que a ditadura não fosse chamada pelo seu próprio nome.
O ato protagonizado por Francisco Wanderlei Luiz de tentar incendiar o prédio do Supremo Tribunal Federal se encaixa perfeitamente na série de episódios violentos que precederam o 8/1. A saber:
* a depredação por bolsonaristas da sede da Polícia Federal em Brasília na noite da diplomação de Lula como presidente;
* na mesma noite, a queima de ônibus no centro de Brasília;
* e na véspera do Natal de 2022, a bomba afixada num caminhão de combustível para explodir uma ala do aeroporto de Brasília.
Ao meu sentir, o que disseram, ontem, os ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes foi a penúltima pá de cal jogada na cova onde será enterrada a pretensão de Bolsonaro de ser anistiado para poder se candidatar novamente em 2026.
A última pá de cal será jogada pela maioria dos ministros do tribunal quando julgar e condenar em definitivo Bolsonaro à pena máxima pelo crime de atentar contra o Estado Democrático de Direito. Não há crime mais grave. Que não se demore a virar a página. O país está cansado.
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