sexta-feira, 15 de março de 2024

Lula explica por que sua popularidade está definhando

Houve uma certa curiosidade em saber a reação do presidente brasileiro, Lula da Silva, à notícia de que todas as pesquisas registravam uma queda em sua popularidade mesmo entre aqueles que votaram nele e entre as categorias da sociedade que sempre foram mais leais a ele, como as mulheres, os jovens e os mais pobres. Lula não esperou 24 horas e respondeu em entrevista ao SBT.

Contra alguns que esperavam que o presidente pudesse culpar a mídia pelos resultados negativos de seu mais de um ano de mandato, como alguns membros de seu partido, o PT, tendem a fazer, Lula reagiu com inteligência emocional. Ele não culpou ninguém. Ele ainda disse que via essa queda de popularidade como normal: “Tenho certeza de que o povo do Brasil não tem motivos para me dar cem por cento de popularidade, pois ainda estamos muito longe do que prometemos. Eu sei o que prometi e os compromissos que assumi.”

Com uma imagem gráfica explicou: “Até agora só preparamos a terra, aramos, colocamos adubo e enterramos as sementes”. E continuando com o otimismo, acrescentou: “Este é o ano em que começaremos a colher o que semeamos”. Na mesma entrevista, Lula abordou a outra questão espinhosa da polarização política, que segundo ele o seu Governo não facilita. Ele também se mostrou otimista: “Não me preocupo com a polarização do país. Também foi assim no passado. Agora o Brasil está polarizado entre duas pessoas, porque na verdade se trata de duas pessoas e não de dois partidos.” Referia-se a ele e a Bolsonaro, embora enfatizasse que na verdade a extrema-direita não tem e nunca teve partido próprio. Ele tentou criá-lo no primeiro ano de seu governo e falhou.

Em sua entrevista, Lula foi contundente: “A mensagem que quero deixar ao povo brasileiro, independente de quem vote, em que partido ou em que religião aposte, vamos fazer deste país um país onde as pessoas vivam felizes. Vamos criar mais trabalho, melhores salários, mais educação, mais cultura e mais prazer.”

Lula deu uma muleta e lembrou ainda que a polarização que o Brasil vive e que de alguma forma dificulta o seu Governo não foge à regra: “Acho que o mundo inteiro está hoje polarizado em todos os continentes”. Uma forma elegante de indicar que a sua dificuldade em começar com as promessas feitas depende também da crescente polarização da política mundial entre esquerda e direita, como as eleições em Portugal acabam de demonstrar.

Em seu otimismo nunca disfarçado, Lula chegou a dizer que a polarização atual no Brasil pode até ser positiva. E ele acredita que os brasileiros logo perceberão que seu governo será capaz de cumprir suas promessas, especialmente em termos de melhorias econômicas para os mais necessitados.

Na verdade, Lula baseia seu otimismo no fato de que em breve a sociedade compreenderá que seu governo está disposto a demonstrar o que a ex-presidente Dilma Rousseff cunhou como: “Gastar é vida”. Lula quer que a riqueza do país, que é muita, chegue o mais rápido possível não só aos mais mortificados pela inflação, mas também à classe média baixa que pressiona para não ser esquecida.

Os analistas mais críticos, como Merval Pereira, colunista do jornal O Globo , atual presidente da Academia de Letras, ressaltam, porém, que o slogan de Lula de gastar a qualquer custo pode ter um efeito bumerangue. O acadêmico escreve: “É saudável a preocupação de Lula com os pobres que fogem por entre seus dedos na direção da direita religiosa (os evangélicos), mas ele não consegue entender que o mercado, em vez de ser uma fera faminta, é um marcador de democracia como transmissor de informação e expressão da opinião pública.”

Lula, porém, em seus esforços para minimizar as pesquisas que indicam queda na valorização de seu Governo, chegou a dizer: “As pessoas não devem esquecer uma única palavra dita na minha campanha eleitoral”. Mas como ninguém é de ferro, numa das suas promessas, a de não tentar um novo mandato presidencial em 2026, Lula deixou agora claro que, se a sua saúde e a idade o permitirem, tentará novamente a sorte.

O que ninguém pode acusar o velho sindicalista, sem instrução, é de falta de perspicácia política, já que nos seus mandatos anteriores acabou sempre por “comer a oposição”, como escreveu na altura este jornal. Será que desta vez ele conseguirá digeri-la também para poder governar em paz?

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