sábado, 22 de novembro de 2014

O arauto do que vem por aí


É melhor prestar atenção ao que anda dizendo o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, goste-se dele ou não

Quem ainda nutre a esperança de que o governo possa imprimir rumo mais promissor à política econômica, em 2015, deve acompanhar com atenção o que vem sendo dito por Aloizio Mercadante, ministro-chefe da Casa Civil da Presidência.

Em reunião com a bancada petista na Câmara, na semana passada, o ministro foi direto ao ponto: “A política econômica do segundo governo não pode ser a que foi derrotada. A nossa prioridade é emprego e renda. A nossa agenda não é a do mercado.” (O GLOBO, 14/11).

Dois dias depois, em entrevista no Palácio do Planalto a Míriam Leitão, na GloboNews, Mercadante deixou claro que, três semanas após o segundo turno, o governo continua aferrado ao discurso econômico descolado da realidade a que se apegou durante a campanha eleitoral.

Bem-falante, o ministro consegue repetir de forma mais articulada os argumentos que Dilma tentava brandir ao longo da campanha. Mas, ao ser mais claro, Mercadante torna ainda mais evidente a absurda dissonância cognitiva que vem marcando o discurso do governo.

O que se ouviu foi uma longa fieira de mistificações. A estagnação da economia é simples desdobramento da desaceleração da economia mundial. Se olharmos nosso entorno na América Latina, a situação não é diferente. Não há nada errado com a política de combate à inflação. O Banco Central sempre teve autonomia operacional. A presidente não fala sobre juros. A inflação sempre esteve dentro da meta. Não houve nenhum represamento de preços de energia elétrica e combustíveis. Ao contrário do que se alega, a política econômica foi uma escolha vitoriosa. O reconhecimento do êxito desse projeto foi dado pelos “54 milhões de votos, 3,5 milhões a mais que o segundo colocado, um Uruguai a mais”.

Em face do risco cada vez mais alto de um vergonhoso rebaixamento da dívida soberana do país, é espantoso que o Planalto se permita adotar discurso tão acintosamente explícito de defesa da irresponsabilidade fiscal. Já não há nem mesmo preocupação em manter as aparências.

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