quarta-feira, 6 de abril de 2016

Dilma passa a traficar cargos às escondidas

Onde você leu: “A presidente Dilma Rousseff anunciou, ontem, que a reforma ministerial ficará para depois da votação do pedido de impeachment”, leia: a reforma continua sendo negociada às escondidas com partidos que possam ajudar o governo a derrotar o impeachment. Bem como a entrega desde já de cargos nos diversos escalões da administração pública.

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Dilma se convenceu de que estava pegando muito mal para ela e para partidos e políticos gulosos o tráfico de ministérios, cargos e liberação de emendas ao Orçamento da União, dinheiro destinado à construção de pequenas obras em redutos eleitorais de deputados e senadores. O fisiologismo escancarado sempre assusta. E um governo perdulário assusta muito mais. Daí o recuo de Dilma. Combaterá à sombra, pois.

De resto, começara a briga entre os partidos dispostos a entrar no governo para ocupar o espaço vago deixado pelo PMDB depois do rompimento anunciado. PP, PR e PSD, principalmente esses, ambicionam os ministérios mais poderosos e certas posições consideradas estratégicas. O PP, por exemplo, não abre mão do Ministério da Saúde, ainda de posse de Marcelo Castro, do PMDB. O PR também o deseja.

A opção de Dilma de seguir distribuindo cargos e de deixar para mais adiante a escalação do elenco de novos ministros, aumentou a desconfiança dos que negociam com ela, repercutindo na tropa de soldados rasos ávida por sinecuras. A fama de Dilma entre os políticos é de prometer coisas e de não entregá-las. Converse com qualquer um deles e você ouvirá um rol interminável de queixas a esse respeito.

Uma vez que consiga barrar o impeachment, nada mais natural que Dilma se sinta fortalecida e acabe esquecendo parte do que prometeu. Nada mais natural que o PT, sentindo-se vitorioso, queira mais espaço em um governo que já não será mais pilotado apenas por Dilma, mas também por Lula, que desembarcou em Brasília e operou o milagre político considerado impossível.

À medida que se aproxima o dia da votação do impeachment na Câmara, mais se torna delicada a situação de Dilma. Ela depende dos partidos de direita para se garantir no cargo. Mas terá de lidar, depois, com o PT, seus aliados e movimentos sociais prontos a exigir que ela passe a governar mais pela esquerda. Lula sempre soube conviver com forças contrárias. Dilma nada aprendeu com ele. Nem mesmo a negociar.

Ricardo Noblat

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