O ex-presidente Lula inviabilizou a si mesmo no veloz episódio de sua nomeação para ministro-chefe da Casa Civil, em decorrência do conteúdo de suas mensagens e pelos absurdos da linguagem a qual recorreu ao longo do desenrolar dos fatos. Não percebeu o que estava praticando de fato e, nos seus tropeços políticos, arrastou consigo a própria presidente Dilma Rousseff. Claro. Fez renascer o processo de impeachment, que se encontrava adormecido pela força da inércia. Um dos motivos do adormecimento foram as contradições no PSDB entre Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin, cada qual com um projeto próprio para ascensão ao poder. Prevalecia o calendário para 2018, sucessão a ser decidida pelas urnas. O PMDB igualmente encontrava-se dividido, sobretudo em face de ocupar seis ministérios no governo, parcela à qual se adicionou mais um com a nomeação do sétimo representante.
Mas a entrada em cena de Lula, ao som do hino nacional, excepcionalmente tocado numa posse de chefe da Casa Civil, toldou o panorama e fez desencadear nova tempestade. O quadro nacional mudou de rumo, principalmente em reflexo da reportagem de Thiago Herdy, Sílvia Amorim e Cleide Carvalho, destacando a frase do ex-presidente de que o Supremo Tribunal Federal encontra-se acovardado. Situação que inclusive estendeu ao Superior Tribunal de Justiça. Resultado: o ministro Celso de Mello respondeu de forma aberta e direta, em nome da Corte Suprema, e o ministro João Otávio de Noronha pelo STJ. E Lula ainda agrediu o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Os recursos contra sua investidura se avolumaram e foram exatamente parar no Supremo, tendo o ministro Gilmar Mendes sido sorteado relator. A posse de Lula permanece suspensa, a estabilidade de Dilma Rousseff ingressa num plano de queda.
Vejam só os leitores como é a política. O que parecia representar uma descompressão (a investidura de Lula) transformou-se na realidade em um fator de pressão contrária ainda maior contra o governo. Não adianta usar argumentos contra as gravações dos diálogos mantidos pelo ex-presidente, quando mais importante do que tal prática é o estarrecedor conteúdo das matérias. Uma delas, inclusive, também publicada pelo O Globo, o telefonema de Lula ao ministro Nelson Barbosa para que tentasse influir na Receita Federal para livrar de investigações fiscais o Instituto que leva seu nome.
A tentativa de influir junto a ministra Rosa Weber para que em seu despacho relativo a recurso apresentado por Lula para que as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público fossem suspensas está na outra face da perplexidade que conduz à interpretação de que ele, Lula, pudesse ter rompido até com a lógica.
Uma fuga da razão, a busca de um escapismo inútil. Os que condenam a liberação das gravações pelo juiz Sérgio Moro fogem do debate quanto à predominância do conteúdo. Pois este conteúdo, ele sim, é que coloca ou colocava em risco a essência do regime democrático.
Basta imaginar as consequências caso as solicitações ilegais e passionais fossem atendidas por Dilma (quanto a Rosa Weber) e Nelson Barbosa (quanto ao Instituto Lula). Seria uma subversão de valores contidos na legislação brasileira.
Este o desenho de um panorama que se aproxima de um desfecho. Se Dilma Rousseff não se afastar da ideia chamada Lula, seu impedimento revela-se próximo. Só um milagre poderá salvá-la. E só outro milagre, este ainda maior, salvará o Brasil.
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