A nomeação escarnecedora do criador odioso a ministro numa série de crimes de Dilma Rousseff que, entre a renúncia e a vergonha, terá as duas, efetivaria o “delenda Curitiba est”, equivalente a um “o Brasil precisa ser destruído”. Parido ministro para sobreviver como presidente, morrerá politicamente como presidiário acompanhado pela desonra e pela família detestável.
Na noite que antecedeu o golpe, convoquei minha mãe para ficar com a neta e fui para a Paulista, onde permaneci até o começo da madrugada. Este é o relato de uma cidadã comum, apenas uma mulher latino-americana, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vinda do interior das ruas nas quais também marchou contra a ditadura militar, pois não é em nenhum refúgio que nos descobriremos: é na rua, na cidade, no meio da multidão, coisa entre as coisas, homem entre homens, segundo Sartre. E são os cidadãos comuns assim ou nem tanto, mas todos autônomos e reunidos para civilizar o país, que estão se descobrindo donos da história que tem surpreendido o cotidiano.
Mas como explicar que pessoas de bem ainda defendam os patronos do esbulho material e moral, preferindo ser crédulas ou indiferentes na barbárie a ser protagonistas na civilização do país? Não sei. Desnecessário gostar de FHC ou da Rede Globo; basta gostar da perspectiva de o país ter a chance de se civilizar. A nitidez dos diálogos sórdidos de Lula e Dilma tramando submeter a ele todos os Poderes da República deveria eliminar dúvidas residuais de que essa perspectiva inexiste sob o PT. Chegando à Paulista, adentrei a República de Curitiba, a Berlim onde ainda há juízes expandida por todo o Brasil, que o déspota repugnante quer destruir em pânico pela ineficácia dos ataques a um juiz federal seguro e sereno.
Depois de ouvir um Lula encharcado de vulgaridade e de potência só realizada no primitivismo cultivado em torno de si pela subserviência dos comparsas e pelo ódio aos desobedientes, enlouquecido na pretensão de intimidar os onze do Supremo, orgulhoso do primarismo que julga ser inteligência política de um cabra da peste, tão à vontade na imundície que, mesmo sabendo do possível grampo, chamou de “meu sítio” o sítio que diz não ter, cheguei à Paulista me sentindo suja e entristecida. Suja da voz roufenha colonizada também por ofensas às mulheres; entristecida na certeza de ainda termos de lidar com tanta sujeira por algum tempo porque a presidente tosca preferiu renunciar não em favor da nação, mas do criador miserável.
Na cerimônia da posse revogada, os farsantes tentaram um golpe a céu aberto acusando de golpista quem os vencerá no mais limpo dos combates – o de cidadãos comuns, livres, amparados na legalidade e fortalecidos na indignação. É nesse combate que me vejo limpa outra vez e, de volta para casa, a tristeza capitula quando beijo minha mãe e minha filha que acorda, a quem conto baixinho: durma, minha flor, sonhe porque Curitiba non delenda est.
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