Aparentemente, funcionou, já que governou São Paulo por três vezes (uma como interventor no Estado Novo, duas eleito), foi prefeito da capital e candidato à presidência da República, além de manda-chuva da política paulista entre as décadas de 30 e 60.
Foi cassado três vezes, a última e definitiva após o golpe de 64, que apoiou. Mas essa é outra história. Importa notar que, se o fato de “fazer” anulava o de “roubar”, e lhe garantia destaque, é porque havia coisa pior: a turma que roubava e não fazia.
Outro personagem histórico já falecido, o ex-ministro Mário Simonsen, dizia que essa modalidade – o do “rouba e não faz” -, ao contrário, era menos nociva. Segundo ele, algumas obras, de tão caras e inúteis, melhor seria não fazê-las, calculá-las e pagar por elas uma propina hipotética.
O PT, porém, além de incorporar ambas as vertentes – a do roubo de resultados e o sem resultados -, inaugurou uma nova: a dos que roubam, fazem, mas fazem tudo errado, sendo esta, de todas, a pior, por seus efeitos colaterais e duradouros.
O resultado é a crise que aí está, a maior das últimas quatro décadas, a que não faltaram crises. Pior: não está convencido do que fez, o que põe em cena o dito do Barão de Itararé, crítico mordaz da ditadura Vargas, segundo quem “o problema do governo não é a falta de persistência, mas a persistência na falta”.
Ao celebrar, seus 36 anos, há pouco mais de duas semanas – o que, diante da vertiginosa sucessão de denúncias da Lava Jato parece uma eternidade -, o partido divulgou, em tom triunfal, o seu Programa Nacional de Emergência, com a autoridade de quem, no fim das contas, criou a emergência.
Já então cogitava da volta de Lula. Houve quem, na sua espessa ingenuidade, acreditasse que, sendo o partido o autor da crise, poderia dispor do remédio para erradicá-la. Só que, em vez de propor cura, receita ao doente uma eutanásia.
A tanto equivale o Programa. Entre outras coisas, propõe o uso de parte das reservas internacionais para a criação de um Fundo Nacional de Desenvolvimento e Emprego, a “radicalização” dos mecanismos de distribuição de renda (o que será isso?), a taxação das grandes fortunas, a redução “drástica” da taxa de juros e a volta da CPMF, compartilhada entre União, estados e municípios (para tentar atrair o apoio de prefeitos e governadores).
Em resumo, a mesma receita que gerou a crise, só que elevada ao cubo, oposta à que o governo, com os cofres vazios, e ainda com um resto de bom senso, estava a sustentar.
Reforma da Previdência? Nem pensar. Contenção do consumo? Ora, ora, a crise é invenção das elites.
Havia, porém, um problema: o partido não confiava em Dilma – nem ela nele - e queria a cabeça da equipe econômica, além de um ministro da Justiça que controlasse a Polícia Federal.
A solução mágica foi chamar Lula, matando assim dois coelhos numa só cajadada: reanimar a militância e garantir asilo ao ex-presidente, neste momento às voltas com a Polícia Federal e o Código Penal. Nem uma coisa, nem outra banirá a crise.
A reação popular à nomeação de Lula turbinou o processo de impeachment e devolveu a população às ruas. O país não está dividido, conforme mostram as pesquisas, em que mais de 90% pedem o fim do governo. Está, pois, unido – e contra.
O PT – e haja persistência na falta – insiste em que o povo não compareceu às manifestações, só “as elites”. No documento em que convocou a militância à manifestação de ontem, diz isso.
E explicita: “Solicitamos que os diretórios estaduais convoquem em caráter de urgência para o dia 18 de março todos os sindicatos, militância e, se necessário, convoquem militantes nas periferias, de preferência negros e pardos, sendo que foi autorizado o transporte, alimentação e o repasse de R$ 30,00 (trinta reais) para auxílio aos militantes”.
Trata-se de documento autoexplicativo que resume uma Era de abjeções e fracassos.
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