quinta-feira, 7 de abril de 2016

Dies horribilis


Deixemos de lado as más notícias econômicas colhidas, ontem, pelo governo. Do tipo:

* As negociações salariais entre patrões e trabalhadores resultaram em um reajuste médio de 0,23%, em termos reais, em 2015. É o menor desde 2004, quando o reajuste médio havia ficado em 0,61%;

* A caderneta de poupança completou o terceiro mês consecutivo de saques. Isso se deve à inflação elevada, aumento do desemprego, menor crescimento da renda do trabalhador e maiores gastos com tarifas e combustíveis;

* O movimento dos consumidores nas lojas de varejo do país caiu 8,5% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2015;

* A produção total de veículos no Brasil no primeiro trimestre do ano chegou a 482,29 mil unidades, uma contração de 27,8% em relação a igual período de 2015.

O de ontem foi particularmente um dia horrível de notícias políticas para o governo. Do tipo:

* O deputado Jovair Arantes (PTB-GO), relator da Comissão Especial da Câmara, deu seu voto favorável ao pedido de impeachment da presidente Dilma;

* A Frente Parlamentar Evangélica da Câmara, que reúne 90 deputados, declarou seu apoio ao impeachment;

* Fechou com o impeachment o Partido Verde, que conta com sete deputados e um senador;

* A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), de forte influência entre deputados e senadores, divulgou nota criticando o governo e recomendando o voto pela saída de Dilma.

À falta do que comemorar, o governo escalou o Ministro-chefe do gabinete da Presidência, Jaques Wagner (PT), para dizer que “as propostas vindas do Congresso de convocação de novas eleições gerais mostram que a proposta de impeachment começa a cair por terra".

As tais propostas de novas eleições, por enquanto, não passam de ideias lançadas ao vento pelo minúsculo partido de Marina Silva (REDE) e parlamentares avulsos. Mesmo que ganhem mais adeptos, em nada influenciarão o resultado da votação do impeachment na Câmara.

Wagner festejou o anúncio feito pelo senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, de que seu partido continuará apoiando o governo. Ocorre que Nogueira se preparara para anunciar que o PP votaria contra o impeachment. Não o fez porque 22 dos seus deputados votarão a favor do impeachment, e mais alguns ainda poderão votar.

O governo não admite de público, mas sabe que a maioria dos 65 deputados da Comissão Especial aprovará o relatório de Arantes até o início da próxima semana. Em seguida, ele será votado em plenário. Para derrotar o impeachment, o governo só precisa do apoio de 172 deputados de um total de 513. Para aprovar, a oposição precisa do apoio de 342.

Se a votação em plenário fosse hoje, o impeachment não passaria. Haveria mais votos favoráveis a ele do que contrários, mas menos do que os 342 necessários. Dá-se que o impeachment, se aprovado pela Comissão Especial, só será votado em plenário a partir do próximo dia 15. Cada deputado será chamado a declarar seu voto ao microfone.

Com toda certeza, o país vai parar para assistir à votação que será transmitida ao vivo pelo rádio, televisão e redes sociais. O prédio do Congresso deverá estar cercado por cerca de 300 mil pessoas, segundo estimativa conservadora da Polícia Militar do Distrito Federal. Tudo isso conspira contra o que interessa ao governo.

A sorte de Dilma, de fato, será decidida somente nesse dia – o domingo 17 ou a segunda-feira 18. O dia 21 é carregado de simbolismo: celebra-se a Inconfidência Mineira. Foi em 21 de abril de 1985 que morreu sem tomar posse o primeiro presidente civil depois de 21 anos de ditadura militar, o mineiro Tancredo Neves.

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