Os dois grupos de ultradireita são separados por 87 anos e duas ditaduras. Unem-se no apelo à fé, ao nacionalismo e ao anticomunismo para mobilizar seguidores e disputar o poder.
Os integralistas buscaram referências na Europa. Salgado chegou a ser recebido por Mussolini, que comandava a Itália com seus milicianos de camisas negras. Voltou decidido a copiar o modelo de Estado autoritário, com partido único, hierarquia rígida e submissão total ao chefe.
“O símbolo lembra que o nosso movimento tem o significado de integrar todas as forças sociais do país na suprema expressão da nacionalidade”, explica o site da Frente Integralista Brasileira, que cultua a memória e o ideário de Salgado.
Na quinta-feira, o grupo celebrou a reciclagem do lema pelo partido de Bolsonaro. “É mais uma demonstração do quanto estão vivos os ideais essencial e sadiamente cristãos e brasileiros do integralismo”, festejou, nas redes sociais.
O historiador Odilon Caldeira Neto, da Universidade Federal de Juiz de Fora, vê traços de continuidade entre os dois movimentos. “O integralismo ajudou a formar uma cultura política nacionalista e autoritária”, explica.
Autor do livro “Sob o Signo do Sigma: Integralismo, Neointegralismo e o Antissemitismo” (Eduem, 2014), ele acompanha os pequenos grupos que se espelham em Salgado. Depois da extinção do Prona, do ex-deputado Enéas Carneiro, eles se aproximaram do PRTB, do vice-presidente Hamilton Mourão.
Com a eleição de Bolsonaro, os neointegralistas encontraram um governo partilha suas bandeiras ultraconservadoras. Isso não significa que a Aliança pelo Brasil seja uma nova versão da Ação Integralista Brasileira. O mundo é outro, os personagens também.
Plínio Salgado cultivava veleidades intelectuais. Circulou com os modernistas e escreveu cerca de 70 obras. Bolsonaro e seus filhos não têm intimidade com os livros: preferem os vídeos do guru Olavo de Carvalho. O líder integralista admirava Mussolini, fuzilado em 1945. A família presidencial mira-se em Donald Trump, que sonha com a reeleição em 2020.
Na campanha, o capitão usava uma camiseta com a frase “Meu partido é o Brasil”. Para o historiador Caldeira Neto, a criação da Aliança reforça o caráter antissistêmico do bolsonarismo. “Ela nasce como um partido e, ao mesmo tempo, como um antipartido”, define. Ao mesmo tempo, o clã promove uma “purificação” na tropa, abandonando os dissidentes no PSL.
No que isso vai dar? “Ainda é uma incógnita”, diz o professor da UFJF.
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