sexta-feira, 18 de março de 2016

Daqui pra frente

A partir de uma semana como esta, com tantas notícias de última hora — instalação da comissão do impeachment na Câmara, a explosiva delação de Delcídio e até Lula num ministério (escrevo quando ainda não tinha sido oficializado) — tudo pode ser diferente. Ou não.

Diante do futuro imprevisível de um governo inteiramente desorientado, quem ousa arriscar previsões? Prefiro fazer como Glória Pires na entrega do Oscar: não sou capaz de opinar. A não ser sobre a impressionante manifestação de domingo, considerada impecável do ponto de vista cívico. Achei bacana, gostei muito, incrível.


Falando sério: além de ter sido o maior espetáculo do gênero no país, me impressionou o seu caráter apartidário, revelado pela hostilidade aos tucanos Geraldo Alckmin e Aécio Neves e à peemedebista Marta Suplicy, xingados e obrigados a sair com seguranças.

Por um lado, o incidente demonstrou a autonomia dos participantes em relação a qualquer partido; mas, por outro, pode ser um sinal que preocupa, o de que a rejeição aos políticos está se transformando em rejeição à política. Quando isso acontece, é grande o risco de surgir um salvador da pátria.

O sebastianismo é uma herança portuguesa muito forte. Costuma-se admirar o carisma como virtude, quando é apenas uma característica de personalidade nem sempre positiva, como no caso de alguns ditadores sanguinários.

A solução pós-impeachment de Collor talvez tenha dado certo porque Itamar Franco não era carismático, apenas um cidadão comum, sem aura, mas honrado e sensato. Vocês veem algum novo Itamar no horizonte do possível?

O cenário está tão confuso que a principal reivindicação da jornada de domingo, o impeachment da presidente, é conduzida por alguém contra o qual há mil$ões de motivos para ter o mesmo fim, logo ele que pode vir a sucedê-la, no caso de cassação da chapa pelo TSE.

Confesso que fiquei com pena imaginando Dilma diante da televisão vendo os protestos. Por mais autossuficiente que seja, a presidente deve ter tido seus momentos de fraqueza e amarga solidão com aquela multidão em todo o país gritando “Fora Dilma” — e ela, para evitar isso, não tem a garantia de poder contar nem com o indispensável apoio de 171 dos 513 deputados da Câmara.

O seu desamparo é tanto que apelou para a solução Lula, mesmo sabendo que, assim, estava nomeando um presidente de fato. Resta-lhe a esperança de que as manifestações a seu favor depois de amanhã consigam empatar o jogo ou vencê-lo. De qualquer maneira, o seu destino não vai se resolver nas ruas, por mais importantes que elas sejam como instrumento de pressão.

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