quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Lula perdeu mais uma chance de se explicar. E o PT também

Dez minutos, ainda mais em cadeia nacional de rádio e de televisão, teria sido tempo mais do que suficiente para Lula pedir desculpas por seus erros e apartar-se das suspeitas que o cercam.

Uma vez que o pedido soasse sincero (e ninguém melhor do que Lula para mentir como se dissesse a verdade), o distinto público até teria sido capaz de perdoá-lo. Quando nada a rejeição a ele diminuiria.

Temos um povo sensível a pedidos de desculpas; um povo religioso que valoriza o perdão; e um povo também meio bobo, convenhamos.


Em seguida, ele poderia ter explicado por que nomeou para a Petrobras os principais diretores que a assaltaram, detendo-se por fim sobre os casos do tríplex no Guarujá e do sítio de Atibaia.

Lula está sendo acusado de quê? De ocultação de patrimônio? De promiscuidade com as empreiteiras que ganharam muito dinheiro durante seus governos e reformaram de graça para ele o tríplex e o sítio?

Sem que ninguém pudesse lhe fazer perguntas incômodas nem contestá-lo de imediato, Lula ofereceria suas versões para tais episódios. Porque ele já deve tê-las.

Por que não pediu desculpas nem se explicou? Só por que lhe faltou humildade? De fato, ele só é humilde para pedir votos. Certa vez, em Belém do Pará, beijou a mão do senador Jáder Barbalho à caça de votos.

Lula não pediu desculpas porque o personagem que ele encena não combina com um pedido de desculpas. Não deu explicações porque receia ser contrariado por fatos apurados ou a serem apurados pela Lava-Jato.

Sua admissão de erros limitou-se a uma pequena frase que cito de memória: “É verdade que erramos, mas acertamos muito mais”. E pronto. A humildade fingida cedeu a vez ao discurso mistificador de sempre.

Chegou ao ponto de culpar a "gente que não gosta de dividir a poltrona do avião" pela falta de credibilidade do governo para tirar a economia da crise mais grave de sua história.

Não lhe criará problemas culpar pela incompetência do governo a “gente que não gosta de dividir a poltrona de avião”. Lula só voa em jatinhos alugados e pagos pelos outros. Não divide poltrona.

Antes de aparecer no programa, Lula havia sido apresentado pelo discurso de um locutor que resume o estado de perplexidade em que vive o PT, sem argumentos críveis para defender seu chefe.

Disse o locutor: "Os que hoje tentam manchar sua história, Lula, são os mesmos de ontem. Os preconceituosos que nunca aceitaram suas ideias e suas origens. Mas não vão conseguir. As ofensas, as acusações, a privacidade invadida. Tudo isso passa, Lula".

Tudo passa, de fato. Até mesmo Lula.

Por pouco não foi lembrada a infância miserável de Lula, sua saída do Nordeste para o Sul na boleia de um caminhão, e a morte de sua primeira mulher em um hospital público.

À falta do marqueteiro João Santana para dizer ao PT e a Lula o que eles deveriam dizer, o partido produziu um dos piores programas dos seus 36 anos de existência. Com direito, no final, a coreografia de bailarinos.

A resposta foi imediata: em 14 capitais, e dezenas de cidades país a fora, ouviu-se o barulho furioso de um poderoso panelaço. Talvez o maior desde que virou moda saudar Dilma, o PT e Lula com panelaços.

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