Em 1993, quando Lula conheceu a secretária Rosemary Nóvoa de Noronha ao visitar o Sindicato dos Bancários de São Paulo, não tinha noção da importância que ela teria em sua vida. Dez anos depois, quando assumiu a presidência, o romance já estava mais do que consolidado. Para mantê-la a seu lado, Lula não teve dúvidas em criar por decreto um cargo público especialmente para nomeá-la como chefe de Gabinete da Presidência da República em São Paulo.
Era uma função sem o menor sentido ou necessidade, que se tornou um estranho apêndice no organograma do governo, pois não havia Chefia de Gabinete em nenhuma outra cidade, apenas na capital paulista. Depois, Lula se animou e ainda teve a ousadia de abrir gabinetes também em São Bernardo do Campo e em Florianópolis (onde residiam filhos e netos), que obviamente foram desativados com sua saída do Planalto.
Curiosamente, ao assumir o governo em 2011, Dilma Rousseff tomaria idêntica iniciativa, ao criar a Chefia de Gabinete da Presidência da República em Belo Horizonte, exclusivamente para nomear a amiga de infância Sônia Lacerda Macedo, que foi sua colega de sala em dois colégios, companheira de armas na luta contra o regime militar e que depois a assessorou na Casa Civil do governo Lula.
A criação do Gabinete Regional em Belo Horizonte foi publicada pelo Decreto 7.462, de 2011. No mesmo documento, também foi implantado um Gabinete em Porto Alegre, onde a Presidência da República alugou um grande escritório no luxuoso edifício Opus One, decorado com mobília de primeira, mas Dilma acabou desistindo de inaugurá-lo em função do escândalo de Rosemary.
O site da Presidência da República mostra que, hipoteticamente, há duas Chefias de Gabinetes Regionais. Uma delas funcionaria em São Paulo, mas não tem ocupante desde a demissão de Rosemary em 2012, embora continue mantendo instalações e funcionários, carro e motorista, sem servir para nada.
A outra Chefia de Gabinete que supostamente estaria funcionando é a de Belo Horizonte, criada especialmente por Dilma Rousseff para acolher a amiga de infância, vejam a que ponto chega a desfaçatez desse tipo de governante (ou governanta, segundo o idioma dilmês).
O site da Presidência já nem menciona a Chefia de Gabinete em Porto Alegre, que existiu, tinha funcionários e jamais prestou qualquer serviço. A absoluta inércia funcional na verdade é característica comum a todas essas repartições criadas para contemplar amigos com empregos maravilhosos e desnecessários, custeados com recursos públicos, ou seja, do povo. Mas quem se interessa? O Tribunal de Contas da União? O Ministério Público Federal? Claro que não, porque têm coisas mais importantes a resolver.
É preciso reconhecer que a imprensa não tem se omitido. Dois importantes jornais de Minas Gerais, o Estado de Minas e O Tempo, já denunciaram que o escritório de Belo Horizonte não tem a menor serventia, a não ser atribuir um belo salário à velha amiga e companheira de armas de Dilma Rousseff.
A presidente da República, aliás, jamais esteve no gabinete da capital mineira, nem mesmo para inaugurá-lo. A suposta repartição funciona no 11º andar do prédio do Banco do Brasil, na Rua da Bahia, em espaço cedido ao governo. Com quatro funcionários, a principal função do escritório é recepcionar a chefe de Estado e seus ministros, mas até hoje Dilma nunca despachou no local.
A única iniciativa do gabinete que já foi noticiada é o desenvolvimento de um projeto, a pedido de Brasília, para a criação do Memorial do Colégio Estadual Central, onde estudaram os presidentes Arthur Bernardes e Getúlio Vargas, além da própria Dilma Rousseff.
Curiosamente, no Memorial até agora nada existe sobre os dois líderes políticos. No acervo, a pasta de Dilma Roussef é a primeira entre os notáveis (e um deles é o atual governador Fernando Pimentel). Depois, surge a segunda pasta, sobre a própria Sônia Lacerda Macedo, que deve se julgar também uma figura importante e histórica, era só que faltava.
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