sábado, 2 de setembro de 2017

Brasil não sabe vender sua imagem ao mundo

A Espanha recebeu, no mês de julho, dez milhões e meio de turistas, quase o dobro do que o Brasil recebeu em 2016, com um território 15 vezes maior do que o país europeu. O Governo brasileiro parece pronto a vender até a Amazônia para fazer frente ao enorme déficit público e, no entanto, não sabe lançar sua imagem no exterior para atrair o turismo internacional. Entre os 181 milhões de turistas que visitam anualmente o continente americano, apenas seis milhões e meio chegam ao Brasil, contra 23 milhões no México. Enquanto a cidade maravilhosa do Rio recebe pouco mais de um milhão de estrangeiros, algumas cidades europeias como Veneza, Barcelona, Londres ou Paris, ou latino-americanas como Buenos Aires ou a Cidade do México, superam em número de turistas todo o Brasil.

Ilhabela, litoral do estado de São Paulo, Brasil. A maior ilha ao longo da costa do Brasil e, literalmente, uma "bela ilha", Ilhabela oferece aos visitantes quase 40 km de praias, trilhas em uma ilha tropical, cachoeiras e nascentes.
Ilhabela (SP)
O Brasil é o segundo entre 133 países do mundo em recursos e belezas naturais e é o 14º em bens culturais, mas não figura entre os 50 países mais visitados do planeta, de acordo coma revista Travel Leisure. Nem a Copa do Mundo e as Olimpíadas foram suficientes para consolidar o turismo em um país que é um continente. Enquanto o Governo está vendendo boa parte das empresas nacionais, não é capaz de transformar o turismo nessa grande indústria que representa 10% do PIB mundial. Um em cada 11 empregos no mundo é criado pelo turismo, que passou de 25 milhões em 1950 para 1,1 bilhão em 2014.

Países como Espanha, França ou Reino Unido chegam a receber até dez vezes mais turistas do que o Brasil, que tem um território do tamanho da Europa e refúgios naturais e culturais únicos no mundo. Deve-se perguntar o que impede o Brasil de ter uma indústria do turismo que poderia criar milhões de empregos e aumentar o PIB nacional. No Ministério do Turismo, acreditam que o motivo da escassez de visitantes internacionais se deve à fama de país violento que se criou. Se fosse assim, países igualmente violentos ou mais, como México, Turquia ou Egito, também teriam escassez de turistas, quando a verdade é que eles continuam a receber mais visitantes do que o Brasil. Na Europa, apesar dos atentados terroristas, o turismo cresceu 4%, e já se pensa em limitar esse fluxo em cidades como Veneza ou Barcelona.

Não seria porque os governos no Brasil, ocupados com a pequena política e em proteger seus privilégios, nunca levaram a sério que o turismo internacional poderia ser uma fonte de riqueza nacional? As receitas da indústria do turismo no mundo ultrapassam as do petróleo, dos alimentos ou a gerada pela indústria automobilística. Na Espanha, um em cada sete empregos é criado pelo turismo. Quando em Paris, devido aos atentados terroristas, o turismo caiu 4%, as autoridades municipais tomaram 59 medidas para promovê-lo. E voltou a crescer. Quantas medidas e de qual eficácia o Governo brasileiro adota para promover o turismo estancado há anos? Aparentemente, a maioria dos poucos turistas que chega o faz incitada por amigos que estiveram aqui e que voltaram entusiasmados, tanto por suas belezas quanto pelo calor humano de sua gente. Muito pouco para vender o gigante brasileiro.

A realidade é que, com 8 mil quilômetros de praia virgem, um sonho para os europeus, no Brasil falta tudo para que o turismo se torne uma indústria capaz de criar riqueza. Faltam infraestruturas como estradas, trens, linhas aéreas, redes hoteleiras e gastronômicas com um leque de possibilidades para todos os bolsos. Hoje, chega-se a dizer que no Brasil os ricos viajam dentro do país e aqueles que não podem se permitir esse luxo se conformam com ir aos Estados Unidos ou à Europa, onde os preços, por absurdo que pareça, são menores e onde são oferecidas possibilidades à la carte, para todos os gostos e condições financeiras. O turismo internacional continua sendo, como a educação, a saúde ou a segurança pública, um assunto pendente que pouco parece interessar os políticos brasileiros.
Juan Arias

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