Sempre que falo em elites, faço questão de logo advertir que não vou me referir a aristocracias, tampouco a grupos dirigentes ligados por laços de hereditariedade ou consanguinidade. Outro ponto preliminar importante é que elites entendidas como grupos reais são algo muito raro no mundo atual. Na maioria dos casos, o termo designa elites abstratas, que no fundo são pura e simplesmente os ápices de quantas hierarquias quisermos imaginar com base em posições objetivas (dirigentes políticos eleitos, alta administração civil e militar, empresários, líderes sindicais etc) ou na reputação de exercer grande influência na sociedade, como é o caso de universitários, intelectuais e jornalistas. Claro, os “ápices” a que me refiro não são homogêneos em termos de poder. Um jornalista destacado é parte de um deles, mas para pertencer à elite econômica você precisa viver em uma mansão, ter uma casa de campo ou no litoral e, quem sabe, um iate de dez milhões de reais.
Assim, enquanto as elites de antigamente, que eram grupos reais, caracterizavam-se por uma coesão “natural”, as elites atuais, sendo meros grupos numéricos, geralmente carecem de coesão. Este é o meu ponto. A eleição do sr. Jair Bolsonaro foi o reflexo perfeito de um País carente de elites capazes de balizar o processo político. Foi um fogo-cruzado rancoroso entre os cidadãos cuja imaginação ele conseguiu capturar para se contrapor aos petistas, que devolviam na mesma moeda.
Não por acaso, Bolsonaro começou prometendo uma “nova” “política” e pulou sem rebuços para o extremo oposto: o Centrão. O Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional não deixaram por menos. Com a débil pressão moral que nossa sociedade é capaz de exercer, ambos têm perpetrado todo tipo de disparate. E, infelizmente, tudo indica que esse enredo se repetirá em 2022.
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