quarta-feira, 7 de julho de 2021

Uma receita para Bolsonaro

As pedaladas que custaram o mandato a Dilma Rousseff tinham algo de malandragem contábil, só. O rolo das vacinas tem muito mais que isso. Ainda faltam-lhe, contudo, as digitais de Jair Bolsonaro. Os irmãos Miranda denunciaram a picaretagem indiana durante uma conversa, e ele não fez nada. É forte, mas pode ser pouco.

Negacionismo só produz misérias. A “gripezinha” abalou a credibilidade do governo em tudo que tem a ver com uma pandemia que já matou mais de 525 mil brasileiros. O mandato de Jair Bolsonaro está em perigo. Na melhor das hipóteses (para ele), a reeleição torna-se um sonho perdido que milicianos não conseguirão reativar.


A Bolsonaro, de nada adianta mobilizar pelotões contra a CPI, maltratar repórteres ou falar para convertidos nas redes sociais. A compra de vacinas pelo governo brasileiro expôs um redemoinho de picaretagens. Um cabo da PM mineira diz que recebeu um pedido de pixuleco de US$ 1 para cada uma dos 400 milhões de doses da AstraZeneca. Capilé de US$ 400 milhões num golpe semelhante é coisa que não existe, mas outras libélulas giravam em torno da AstraZeneca. A vacina do cabo custaria US$ 4,50 (com o pixuleco incluído). Na mesma época, um misterioso operador oferecia-se para privatizar imunizações, oferecendo a mesma vacina a um grupo de empresários por US$ 23,79 a unidade. A proposta foi detonada pelos bilionários que seriam mordidos. Isso com a AstraZeneca. 

Com a Covaxin indiana, o ministro Benjamin Zymler, do Tribunal de Contas da União, pergunta ao governo por que a unidade, negociada a US$ 10 em novembro do ano passado, foi contratada por US$ 15 em fevereiro.

Todos os laboratórios reiteram que nada tiveram a ver com essas ofertas. Tudo não passaria de conversa de atravessadores, mas, em todos os casos (salvo no da oferta ao consórcio de empresários), na outra ponta havia servidores públicos habilitados a negociar.

A única vacina que não foi rondada pela turma do pixuleco foi a CoronaVac. Aquela que, segundo ele, NÃO SERÁ COMPRADA (maiúsculas de Bolsonaro).

O capitão pode persistir no caminho do vitupério. Nele, a Covid-19 era uma gripezinha, e as vacinas poderiam transformar cidadãos em jacarés. Esse negacionismo já levou o país à ruína dos 525 mil mortos e mandou o governo às cordas. Recorrer aos militares, nem pensar, pois eles já carregam o desastre do general Pazuello e dos coronéis que ele levou para o Ministério da Saúde.

O tamanho do problema sugere que seria conveniente nomear uma pessoa ou uma comissão independente para tratar dessa cavalariça, limpando-a. Nada a ver com notáveis terrivelmente seja lá o que for. Para fulanizar, apenas mostrando um perfil dessa pessoa. Poderia entregar o caso ao ministro Marco Aurélio Mello, que está prestes a deixar o Supremo Tribunal Federal.

Essa pessoa, ou comissão independente, investigaria o que acontece no Ministério da Saúde e no seu entorno, restringindo-se à questão do preço das vacinas. Terminado o serviço, entregaria a Bolsonaro uma bandeja com a cabeça dos envolvidos, bem como uma avaliação de seu papel nos episódios. Esse procedimento não tiraria das costas do capitão os 525 mil mortos da Covid-19, nem os quase 15 milhões de desempregados. No mínimo, aliviaria o país de um aspecto de sua conduta irracional.

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