domingo, 8 de novembro de 2020

Como escolher um candidato

Houve tempo em que era fácil escolher candidato, pelo partido ou pensamento – esquerda ou direita. As transformações no mundo ocorreram mais depressa do que as adaptações dos partidos e dos blocos, deixando os eleitores sem referências. A globalização fez impossível dividir os políticos entre nacionalistas plenos ou totalmente globalistas. O fracasso do Leste Europeu fez com que a esquerda deixasse de se identificar com a estatização, que passou a significar fábrica de privilégios, desperdícios, ineficiência e corrupção, mas as sucessivas crises provocadas pelo liberalismo fizeram a direita perceber a importância do Estado na economia e mesmo na sociedade, adotando e até ampliando programas de transferência de renda que eram bandeiras progressistas. A impressão é que os partidos e os políticos ficaram todos parecidos.

Mesmo assim, eles são diferentes e não é difícil escolher em quem votar, se, sem apego às siglas que pouco significam, leva-se em conta três fatores, nesta ordem de importância.



Primeiro, o passado do político: corrupto ou íntegro. No mundo de hoje, estas são características fundamentais que diferenciam radicalmente os candidatos.

Segundo, se nas suas histórias pessoais e propostas eles são responsáveis ou irresponsáveis no uso dos recursos públicos, os recursos fiscais que o povo paga a cada ano ao Tesouro Nacional, e os recursos ecológicos que recebemos da natureza. A moral do comportamento - corrupto ou honesto – é fundamental, mas a ética da responsabilidade – populista ou responsável – é igualmente importante, porque os irresponsáveis provocam desastres ainda maiores e muito mais difíceis de corrigir. A inflação, consequência da irresponsabilidade, rouba cada pessoa, especialmente aos pobres que não dispõem de instrumentos de proteção.

Terceiro, entre os honestos e responsáveis, há a divisão entre os progressistas e os conservadores. Embora cada um destes dois blocos também se dividam, é possível escolher o candidato conforme suas posições em relação ao respeito às instituições democráticas, aos costumes, à garantia de liberdade, à defesa de direitos humanos, ao papel eficiente e social do Estado, às reformas estruturais, à defesa do meio ambiente, às prioridades no uso dos recursos públicos.

Ao eleitor, depois de identificar os honestos responsáveis, cabe escolher quais prometem para o futuro o que mais se aproxima dos seus sonhos para o país e para o mundo: conservar o que temos ou progredir a um país eficiente, justo e sustentável.
Cristovam Buarque

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