domingo, 30 de setembro de 2018

O risco

Seja quem for o próximo presidente, enfrentará quase metade da nação inconformada, mobilizada contra ele, com sinais de intolerância extrema.

Os eleitores, em sua maioria, estão profundamente insatisfeitos, marcados por decepções. Mais que esquerda e direita, o cenário se apresenta dividido entre saudosos de Lula e saudosos de uma época de “normalidade”, em que o Estado era discreto, cobrava pouco e não atrapalhava. Em que as coisas se resolviam pelo bom senso, e não pela judicialização.

Pela primeira vez em décadas, a maioria dos eleitores se manifesta indisposta ao “contumaz” maniqueísmo representado por PT versus PSDB, ou vice-versa. Constata-se que a somatória das intenções de voto dos dois partidos hegemônicos, na última rodada de pesquisas, conta apenas 30% dos votos (22% + 8%) para eles. Situação bem diferente, quando falta apenas uma semana, das circunstâncias vividas na véspera das eleições desde 1994 até 2014, quando PT e PSDB contabilizaram, juntos, acima de 60% de todas as intenções declaradas.


Nestes dias, mais da metade dos eleitores prefere as alternativas, entre elas Bolsonaro, o mais citado, e, ainda, Ciro, Marina, Amoêdo, Alvaro Dias, Meirelles e outros pretendentes, que sinalizam como majoritária a preferência popular por um novo caminho.

Entretanto, pesa sobre essas propostas de terceira via a inexperiência numa disputa entre gigantes.

Neste momento, o que faz o eleitor enxergar preferencialmente “outros” é o transbordar de desempregados em todos os setores, de legiões de asfixiados pelos altos tributos, pela burocracia infernal que aprisionou o ímpeto desenvolvimentista. O exemplo execrável dos principais políticos nacionais, seus acintosos privilégios e impunidades, os abusos, as mordomias e os maiores escândalos de corrupção do planeta.

O Brasil foi levado à falência por quem o governou, e disso vem a preferência, pela primeira vez em muitas eleições, por uma mudança radical, uma saída do pesadelo.

Bolsonaro vem se firmando como o símbolo, o castigo contra quem poderia ter tratado bem a nação, mas pensou apenas em se locupletar; mais que por suas virtudes e experiência, pelo que melhor se identifica contra o mecanismo “podre”.

Bolsonaro provavelmente não ganhará contra tanta maré contrária, mas está mostrando que na população se despertou o sentimento de repúdio. Unidos, podem vencer mesmo com uma figura que não possui tempo de propaganda, Fundo Partidário e, mesmo esfaqueado, longe de debates, conta com voluntários trazidos à política pela insatisfação.

Mesmo atacado e demonizado por todos os concorrentes, esculhambado pela mídia nacional, pela turma da “Rouanet”, pelas redes de televisões que num coro afinado o apresentam como desequilibrado, violento, homofóbico, despreparado, truculento e tudo que se possa imaginar de ruim em um ser humano, resiste e assusta quem vê no horizonte a possibilidade de uma enorme mudança. Não digo para melhor, mas a saída de uma geração que deixou passar o melhor momento para o Brasil se firmar como país próspero e decente.

São essas circunstâncias de desespero do status quo, do “mecanismo”, que alavancam Bolsonaro. Quanto mais batem, mais firmam seu eleitorado. Para eliminá-lo, acabaram promovendo-o. Passou no imaginário popular a ser considerado um “mito”, um “Capitão América”, um enviado para enfrentar o que não está certo.

O sucesso que dele deriva vem principalmente por ser uma figura incontestavelmente fora dos eixos, uma antítese, um sui generis, um inimaginável, uma bactéria resistente, sem vacina e sem tratamento.

Daí que apenas uma facada o possa parar, já que não usa jato particular como Eduardo Campos, mas voo de carreira. As terceiras vias, quando no Brasil, correm risco.

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