domingo, 4 de março de 2018

A intervenção meia-sola

Há um recado subjacente às restrições que a esquerda e as organizações a ela ligadas emitem em relação à intervenção federal no Rio: confiam menos nos militares que nos bandidos.

Isso explica o largo espectro de entidades – nacionais e locais – que, em tom hostil, avisam que irão monitorar minuciosamente a ação das Forças Armadas no combate ao crime organizado.

Entre outras, OAB, ABI, Ministério Público, Associações de Magistrados, de Moradores das Comunidades, sem esquecer parlamentares, artistas, intelectuais, acadêmicos e sindicalistas.

Vídeos com advertências prévias, em tom intimidatório, viralizam na internet, em contraste com o clamor popular, saudando os interventores, na expectativa de um enfrentamento eficaz.

Até o Tribunal de Contas da União – já que o do Estado está na cadeia – avisou que irá designar comissão para acompanhar os gastos dos militares durante as operações.

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Nada contra a vigilância cívica, que deve mesmo estar presente, sempre e em horário integral. O que se questiona é onde essa vigilância estava quando o narcotráfico, ao longo das três últimas décadas (começou com Brizola, nos anos 80), se instalou nos morros e periferias da cidade, submetendo à tirania do crime a população pobre, exatamente a que a esquerda diz agora defender.

Desde que passaram o poder aos civis, há 33 anos, os militares jamais voltaram a intervir na cena política, ocupada gradualmente por ONGs, sindicatos e partidos de esquerda.

O crime organizado estabeleceu-se à sombra dessas organizações, em conluio com os sucessivos governos, estimulado por uma blindagem legal que, desde Brasília, o tornou mais seguro que qualquer outro segmento da sociedade brasileira.

Quando o general Hamilton Mourão chamou a intervenção de “meia-sola” e comparou o interventor, general Braga Neto, a “um cachorro acuado”, referia-se a esse quadro.

Quem o vê de fora imagina que o Exército invadiu a cidade, à revelia de seus habitantes – e não que está sendo chamado, mais uma vez, para gerir uma catástrofe, que não ocasionou. Foi assim em eventos de repercussão internacional, como os jogos Pan-americanos de 2007, a Copa do Mundo de 2014 e os jogos Olímpicos de 2016.

Por fim, as operações de garantia da lei e da ordem (GLO). Agora, a missão é mais espinhosa ainda: assumir a segurança pública do Estado, que é um dos fatores da insegurança.

O crime é monitorado de dentro do próprio Estado. Nas palavras do agora ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, no Rio, o Estado foi “capturado pelo crime organizado”. Como combatê-lo, pois, à sombra do governador Pezão e da Assembleia Legislativa?

Sérgio Cabral chegou ao Palácio Guanabara tendo como cabos eleitorais Lula e Dilma. Lula (e isso está no Youtube) chegou a dizer que votar em Cabral era “um dever moral do carioca”. Cabral foi eleito, reeleito e fez seu sucessor, Pezão. Ontem, recebeu mais uma condenação, inteirando mais de um século de cadeia.

Lula está prestes a segui-lo. Não se ouviu dessas organizações que dizem temer o Exército nenhuma manifestação crítica a nenhum desses personagens. O crime organizado age sem as ressalvas que se impõem à polícia: não está submetido a coisas tais como “excesso de legítima defesa” ou à audiência de custódia ou a direitos humanos.

Rouba, mata e faz da população escudo humano. Se falhar, será socorrido por diversas ONGs, que defenderão seus “direitos”.

O general Mourão foi até moderado. O general Braga Neto é um maestro algemado, chamado a reger uma orquestra cujos instrumentos estão quebrados e as partituras se misturaram.

Ruy Fabiano 

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