Quando alguém discorda de um comissário petista ele insinua
que isso é coisa de quem está a serviço de algum interesse antissocial. Já o
tucano é mais elegante. Quando o sujeito discorda ele explica de novo. Na sua
última convenção, o PSDB apresentou-se pronto para assumir o governo, como se a
derrota eleitoral do ano passado tivesse sido apenas um acidente. Melhor
explicado, seria revertido.
Admitam-se todas as premissas expostas pelo tucanato. Aécio Neves perdeu a eleição para uma “organização criminosa". O PT não gosta dos pobres, mas do poder. O governo perdeu o rumo. Admita-se também que o PSDB pode ser uma alternativa às pedaladas e às petrorroubalheiras. Nesse caso, diante do que está aí, nada melhor que ele.
Na mesma convenção em que o tucanato apareceu pintado para a guerra aconteceram dois episódios. Eduardo Azeredo, ex-presidente do partido e ex-governador de Minas Gerais, foi colocado entre os convidados de honra do evento. Réu no caso do mensalão mineiro, anterior ao petista, Azeredo renunciou à presidência do partido e a uma cadeira de deputado federal para abrigar-se no rito da primeira instância. Como o tesoureiro João Vaccari, ovacionado no congresso do PT, ele é inocente até que haja sentença judicial condenando-o. O tucanato tinha mais uma surpresa cerimonial. Incluiu entre os aliados que discursaram a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), filha e herdeira do notável Roberto Jefferson, que cumpre em regime aberto a pena de sete anos a que foi condenado pelo Supremo Tribunal.
Políticos experientes como os candidatos Aécio Neves e Geraldo Alckmin poderiam ter contornado esses constrangimentos, mas, quando contrariados, os tucanos explicam de novo. Para eles, o mensalão mineiro e Roberto Jefferson nada têm a ver com a essência do mensalão petista.
A ação da Justiça diante do mensalão do PT mandou para a penitenciária gente que confiava na impunidade do andar de cima. O “efeito Papuda", por sua vez, abriu o caminho para 16 casos de colaboração de delinquentes com as investigações das petrorroubalheiras. Alguma coisa mudou no país, mas o tucanato persevera.
À primeira vista, o PSDB estaria na situação do Mr. Jones da canção de Bob Dylan: “Alguma coisa está acontecendo aqui, mas você não sabe o que é”. Essa hipótese é benigna, porem implausível. O tucanato sabe o que está acontecendo e quer mudar o país à sua maneira, com Eduardo Azeredo entre os convidados de honra e Cristiane Brasil na tribuna. Age como se tivesse recebido do Padre Eterno um mandato para governar o país. Replica a soberba de Lula e do comissariado petista ao solidarizarem-se com os mensaleiros.
O mandato da doutora Dilma não pode ser desligado por um clique do Tribunal de Contas da União ou do Tribunal Superior Eleitoral. No primeiro caso, o parecer do TCU precisa passar pelo rito da Câmara e do referendo de seu plenário. No segundo caso, basta que um ministro do TSE peça vista do processo para que o julgamento seja paralisado. Mesmo que quatro dos sete ministros antecipem seus votos condenando o governo, a sentença estará bloqueada. Sem crise institucional, as coisas funcionam desse jeito. Com crise, o que há é a crise.
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