quinta-feira, 9 de julho de 2015

Bem mais do que tranquilidade


Após reunião com deputados e ministros do Partido dos Trabalhadores no início da semana, Lula começou a colocar em prática a estratégia de se reaproximar do povo e “ajudar” Dilma Rousseff a sair do buraco em que se meteu. Diferentemente do que dizia antes da viagem da presidente aos Estados Unidos, em sua última aparição pública, quando palestrou para petroleiros, o líder petista não atirou contra o plano econômico do governo e praticamente soletrou aos companheiros o que a sua colega deve fazer a partir de agora.

“Colocar a cabeça no colo do povo e dialogar”. O conselho de Lula, paternal por natureza, chega a ser carinhoso e afável, mas, na real, não adianta muito, pois relativiza em demasia o terrível momento pelo qual passam o país e o seu partido.

Lula fala o que deve ser feito, mas não mostra como deve ser feito. Vagamente, sugere a Dilma que coloque os pés na rua e leve seu ministério a tiracolo, mas se esquece de que não estamos mais nos saudosos anos de seu governo, quando, apesar das denúncias do mensalão, tinha bala na agulha para agradar à população, sobretudo a mais carente.

Se Dilma puser o pé na rua, corre o risco de se atolar ainda mais. Suas palavras não são claras o suficiente, e tudo o que ela anda dizendo tem somente acentuado a percepção de que temos uma presidente atordoada e sem rumo.

Queira ou não assumir, o PT passa por uma situação catatônica, em que seu maior capital político, o povo, está se desvalorizando rapidamente. Esse pacto, que esteve fortalecido por mais de uma década, está agora sendo desfeito, e isso não está acontecendo por causa das infinitas denúncias de corrupção.


Em tese, algo muito simples de se entender transforma o conselho de Lula em palavras ao vento. O custo de vida e o desemprego aumentando, ao mesmo tempo em que o poder de realização material da sociedade diminui, impedem que Dilma coloque a cabeça no colo do povo, como quer o padrinho. Com a despensa vazia, o povo não lhe dará esse colo de que ela tanto precisa. E o mundo real é constituído por Eduardo Cunha e seu PMDB, uma oposição fortalecida, uma Polícia Federal atroz e uma Justiça propícia a condenar.

Não é mais como era antigamente. Talvez tenha chegado o momento de o PT enfrentar suas celeumas de uma maneira diferente. Ir para a rua, claro, mas negar o que é óbvio só piora.

As evidências, surgidas dia após dia, mesmo que sejam frutos de “vazamentos seletivos”, como reza o mantra petista, estão aí, ao alcance de todos. Serão elas que tornarão qualquer entoada da presidente e de aliados perigosamente vulnerável. Lula também torce para Dilma não perder a tranquilidade. Para que sua estratégia obtenha êxito, é melhor pedir a Deus que a paciência de nossa população continue sendo de Jó.

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