quinta-feira, 30 de junho de 2016

Acabou a espera de João por uma vaga na UTI em Brasília. Ele

João Rosa do Nascimento, 55 anos, peão de obra desempregado, esperou por 84 horas para ser transferido a uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) que vagasse em qualquer hospital de Brasília.

Estava em coma induzido por conta de um derrame. Seus filhos conseguiram três ordens judiciais para obrigar o Governo do Distrito Federal a acomodá-lo em um quarto de UTI. Tudo em vão.

Ontem, pouco antes de 22h, João sofreu a quarta parada cardíaca desde que deu entrada no hospital do Paranoá, a menos de 20 minutos de carro do prédio do Ministério da Saúde.

Aparelhos hospitalares defeituosos, essenciais no tratamento de pacientes em estado grave, estão encostados em uma sala no hospital do Paranoá a espera de reparos (Foto: Guga Noblat)
Foto: Guga Noblat
Morreu numa cama de uma das salas do pronto socorro do hospital. Em outras dependências do hospital, amontoam-se aparelhos de UTI sucateados

João chegou ao hospital no domingo depois de sentir tonteira e formigamentos no momento em que tomava o café da manhã. Era um Acidente Vascular Cerebral (AVC), comumente chamado de derrame.

Ontem à tarde, o secretário de Saúde, Humberto Fonseca, disse a este blog que a condição dele era estável, apesar de demandar cuidados de uma UTI.

Como havia casos mais urgentes, João teria que continuar esperando a abertura de uma vaga, avisou Fonseca. São 800 quartos de UTI em Brasília, 80 vagos por falta de médicos e de enfermeiras.

O drama de João com o sistema público de Saúde do Distrito Federal começou no ano passado quando ele quebrou a mão e não recebeu o tratamento adequado.

João precisava passar por uma cirurgia que nunca aconteceu. Por isso, acabou demitido do emprego. Trabalhava com construção civil.

Sua maior paixão era construir casas. Outra paixão era pescar.

Na semana que antecedeu ao derrame, ele foi todos os dias as hospital do Paranoá para tentar marcar a cirurgia da mão que deveria ter sido feita há oito meses.

“Só que a burocracia do Estado não permitiu que ele se operasse”, queixa-se Vando, um dos sete filhos de João.

João chegou a Brasília há 40 anos. Veio da pequena Itumbiara, em Goiás. Na capital, apaixonou-se por Aparecida de Jesus do Nascimento com quem logo se casou.

A família dependia do seu trabalho para se manter. E assim foi por pouco mais de 20 anos.

O funeral de João será hoje na cidade de Planaltina.

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