quinta-feira, 30 de junho de 2016

A saída possível

Muitas vezes somos assolados por um sentimento de impotência em relação ao futuro do Brasil. Afinal, por mais que caminhemos, parece-nos sempre que voltamos ao mesmo ponto em que a realidade de violência, corrupção e desinteresse pelo bem comum impõe-se como uma fatalidade. No entanto, há saídas e uma delas, a mais óbvia e mais duradoura, seria uma profunda mudança no nosso sistema de ensino. Não há país no mundo que tenha conseguido superar suas mazelas sem investir prioritariamente em educação. E o resultado aparece não apenas no aumento do nível cultural da população, mas reflete-se de maneira imediata nos índices econômicos. País educado é sinônimo de nação rica e socialmente mais equilibrada.

Para resolver nossos problemas devemos, antes de tudo, reconhecer que temos problemas. O Brasil mantém-se nos últimos lugares do ranking elaborado pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) que, desde sua criação em 2000, examina os conhecimentos de estudantes de 15 anos de 64 países nos campos da ciência, matemática e leitura. Segundo dados da ONG Todos pela Educação, 78,5% dos brasileiros terminam o ensino médio sem dominar minimamente a língua portuguesa. O Instituto Paulo Montenegro, em conjunto com a ONG Ação Educativa, encontrou 38% de analfabetos funcionais – pessoas que não conseguem interpretar textos simples – entre nossos universitários, e concluiu que 73% da população adulta – de 15 a 64 anos – não é plenamente alfabetizada. No ano passado, o Brasil destinou 6,6% do Produto Interno Bruto (PIB) à educação, maior que a média dos países filiados à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 5,6%. No entanto, nosso gasto por aluno é três vezes menor - 2.900 contra 8.900 dólares. Então, o problema não é tanto o total de dinheiro destinado ao ensino público, mas a maneira como ele é gerido.


De acordo com a Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis, na sigla inglesa), patrocinada pela OCDE, 90% dos professores brasileiros dos anos finais do ensino fundamental concluíram o curso superior, mas cerca de 25% não estão habilitados a dar aulas. Apenas 40% são empregados em tempo integral (contra 82% na média dos países da OCDE) e cada um administra 34 alunos em sala (contra 24 nos países da OCDE). Além disso, nossos professores dedicam 25 horas por semana às aulas, seis horas a mais que a média dos outros países, mas, deste total, 12% são gastos em tarefas burocráticas e 20% na tentativa de impor ordem à classe.

E aqui nos deparamos com o dado mais alarmante. Pesquisa da Talis mostra que o Brasil lidera os casos de violência nas escolas: 12,5% dos professores ouvidos relatou ser vítima de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana, uma frequência quatro vezes maior que a média global. Segundo dados do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp), 44% dos professores da rede pública do estado mais rico da União já sofreram algum tipo de violência em sala de aula. A hostilidade verbal é a forma mais comum (atingindo 39% dos docentes), seguida de assédio moral (10%), bullying (6%) e agressão física (5%). O estudo mostra também que quem mais sofre com a violência são os professores do sexo masculino que lecionam no ensino médio: 65% deles afirmam já terem sido agredidos.

Além de ter de conviver com a falta de infraestrutura adequada (prédios, móveis, bibliotecas, computadores), os professores ainda não contam com o apoio daqueles que deveriam ser seus principais aliados, os pais dos alunos. A educação válida, aquela que nos capacita para o exercício da cidadania, única garantia para uma sociedade democrática, tem que necessariamente ser compartilhada entre a família e o Estado. Em casa, adquirimos conhecimentos gerais e recebemos noções morais e éticas, valores que, introjetados, constituirão nosso ser pelo resto da vida. Na escola, espaço privilegiado de socialização, recebemos instrução, ou seja, somos alfabetizados, organizamos os conhecimentos gerais e exercitamos as noções morais e éticas. Apenas 12,6% dos professores acredita que sua profissão é valorizada pela sociedade, contra a média global de 31%. Esse desinteresse pelos educadores transparece no valor da remuneração de seu trabalho. A média salarial é de 2.181,00 reais para professor de ensino fundamental e 2.476,00 reais para o ensino médio por 40 horas semanais. O piso nacional, que nem todos os estados respeitam, é de 2.135,64 reais – salário quase 70% menor que o praticado nos países desenvolvidos.

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