segunda-feira, 18 de abril de 2016

Sem Dilma, o que vem por aí?

O que pode acontecer com a economia se o impeachment passar e o vice, Michel Temer, assumir a Presidência? Provavelmente, nem ele sabe. Ele até pode ter um plano de emergência (como teve Itamar Franco em seu mandato-tampão), um choque econômico para tentar tirar o País do buraco, mas ele não ignora que vai enfrentar um inimigo imponderável que não consegue controlar: o descrédito, a falta de confiança da população em seu partido, o PMDB, que nos últimos 13 anos dividiu com o PT responsabilidades de governo, as benesses da corrupção espalhada pela gestão pública e as decisões erradas que arruinaram a economia do País.

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A seu favor Temer conta com uma fatalidade: a alternativa Dilma seria pior, o que pode lhe dar um voto de confiança na partida, mas certamente com prazo de validade – dos empresários, mais longo; da população, mais curto. Portanto ele tem pouco tempo para agir, e agora sem direito de errar. Suas chances crescem se ele priorizar temas centrais das manifestações de rua. As reformas política e administrativa, por exemplo. Diferente da previdenciária (necessária, mas mal compreendida), essas reformas têm apoio popular entusiasmado e dariam um bom início para Temer conquistar confiança. Elas têm o mérito de produzir duplo impacto: efeito positivo na economia, ao reduzir o gasto público e o aparato burocrata de governos balofos, e a população ficaria mais protegida de pilantras e enganadores da política, sobretudo em época eleitoral.

O Brasil é campeão mundial em ministérios (32) e partidos políticos (também 32). Eles custam bilhões de reais ao contribuinte brasileiro e a maioria serve para abrigar políticos aparelhados no governo, para receber dinheiro público do Fundo Partidário, vender espaço na TV em época de eleições e espalhar corrupção pela gestão pública. O toma lá dá cá, que Lula institucionalizou e exagerou e Dilma escancara, agora, em troca de votos contra o impeachment, explica a profusão de partidos e ministérios e reclama urgência nas reformas política e administrativa.

Em Brasília poucos acreditam que chegará o dia em que essa realidade vai mudar, que deputados e senadores aceitarão abrir mão de poder e aprovar reformas e regras que eliminem ou contenham seus privilégios. Muito menos que isso se dará pelas mãos de um peemedebista. Porém, se aprovado o impeachment de Dilma, é a chance de Temer e do PMDB sobreviverem nestes dois anos e oito meses de mandato. Propor ao Congresso reformas estruturais sérias (também da previdência, tributária e trabalhista) é o primeiro e imprescindível passo para o novo governo ganhar credibilidade e dar sustentação a um programa econômico que convença o investidor a investir e a população a apoiar e acreditar em que o crescimento econômico pode demorar, mas o País marcha na sua direção.

Nesse choque de credibilidade é fundamental garantir continuidade à Operação Lava Jato. O desmantelamento de esquemas de corrupção no governo, em empresas estatais e fundos de pensão não pode ser desativado ou mascarado para proteger lideranças políticas influentes, como o presidente do Senado, Renan Calheiros.

Temer vai encontrar um país despedaçado: as contas públicas em frangalhos; receita tributária desabando; investimento público zerado e o privado, assustado; desemprego disparando; população perdendo quase 10% de sua renda em apenas dois anos de recessão; a dívida pública passando de 70% do PIB, podendo chegar a 90% em 2020; a corrupção presente por onde circula dinheiro público; programas sociais retrocedendo; pobreza em expansão; Estados falidos e funcionários sem salários. E por aí vai.

São muitas as frentes de ação do novo governo. Um programa de emergência é bem-vindo para perseguir resultados rápidos, mas é indispensável abandonar o ritmo desarvorado de apagar incêndios, que predominou sob Dilma e tanto mal fez ao País. É fundamental pensar o Brasil no longo prazo, arrancar do Congresso a aprovação das reformas, tantas vezes adiadas, planejar ações, construir e perseguir metas.

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