Mestre em saúde pública, o psicólogo e professor universitário Ricardo Sebastiani, do Nêmeton Centro de Estudo e Pesquisa em Psicologia e Saúde, coordena uma equipe de 38 profissionais que atuam em 16 unidades da cidade de São Paulo. No primeiro trimestre de 2016, ele e a equipe observaram um fenômeno inédito: nos primeiros três meses do ano, quando o movimento tradicionalmente costuma ser menor, a procura por terapia aumentou. Neste mesmo período, as queixas ligadas a transtornos de ansiedade cresceu 20%, dentro de um universo de cerca de 1.500 consultas por mês.
Nas sessões de terapia, a crise política ou econômica tem sido tema das divagações de ao menos 6 em cada 10 pacientes, o que também não era habitual. Mas em semanas de acontecimentos mais quentes, como quando ocorreram as manifestações contra e a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, em março, a proporção chegou a 9 em cada 10. As reclamações têm uma razão real: qualquer que seja o desfecho do processo, o resultado afeta diretamente as vidas da população. "As pessoas estão vivendo um estado permanente de ansiedade e tensão, que às levam aos limites da suas capacidades de resistir e se adaptar. Isso deixa o corpo e a saúde emocional no limite também", diz Sebastiani, psicólogo há mais de 30 anos.
Entre os que demonstram maior preocupação estão os adultos em fase produtiva, sobretudo pelo temor em relação ao trabalho e ao sustento familiar. Segundo o levantamento feito por Sebastiani com colegas da área, entre os profissionais que mais demonstram sofrer com a crise estão: jornalistas (sim, é verdade), professores, profissionais da saúde e advogados.
"O estresse, agravado pela situação atual de instabilidade política e de crise econômica, age no sentido de incrementar os conflitos internos das pessoas, que ficam mais ansiosas. A sensação de insegurança e indefinição desperta uma profunda angústia que faz com que as pessoas se alterem muito. E isso, somado ao acúmulo de outras situações de tensão, tem provocado um aumento de queixas [no consultório] nesse sentido e uma busca maior por ajuda", explica o médico psiquiatra e psicanalista José Roberto de Campos de Oliveira, de São Paulo, que atende pacientes há 37 anos.
Alguns dos efeitos sobre o corpo são a queda na imunidade, transtornos psicossomáticos , ataques de pânico, instabilidade de humor e fadiga
"É um sentimento de constante insegurança. O maior temor é o de perder o emprego e não ter como pagar as contas. Há também um sentimento de descontinuidade: projetos suspensos por falta de dinheiro, mudanças de hábito que diminuem as opções de válvula de escape da população... E quanto maior o conhecimento sobre o que está acontecendo, maior a preocupação quanto à indefinição do cenário político", completa Ricardo Sebastiani.
Leia mais a reportagem de Mariana Novaes
Nenhum comentário:
Postar um comentário