– Você, sim! "Onde está, no estatuto do PT, que tem que votar contra o trabalhador e o aposentado? Vote de acordo com a sua consciência" –foi isso que você falou pro Paim. –Esquece o Paim, querida. Ele não ia ceder mesmo. Falei por falar.
– Ok, mas e o Lindbergh com aquele manifesto contra o Levy? Esse só faz o que você permite. Tem mais: no congresso do PT de São Paulo, aquele fracasso, todo mundo gritava "Fora, Levy". Vai ser assim no Congresso Nacional, vai? – Dilminha, você sabe como é o PT, né?
– Não sei. Nunca circulei no PT, graças a Deus. Sei que não gritariam isso contra você. O jogo agora é derrubar o Levy, Lula? Onde você quer chegar? – Não grita, Dilma! Não sou teu ministro número 40. Vê se entende: sou candidato. Pronto, falei.
– Isso eu sei, desculpa gritar. Mas combinamos outra coisa. O Levy, aquele desaforado, você quis o Levy! – Eu, não: queria o Brandão. – Dá no mesmo, ora, é o Bradesco. E combinamos que o Levy fica até passar essa fase; depois troco pelo Barbosa. – Sei, Dilminha, não é pra mudar o plano, não. – Ah, não? E o "Fora, Levy"?
– Querida, sou candidato! Não posso ser candidato da recessão, da austeridade. Sou o cara da utopia, do futuro. Entendeu? – Entendi, sim. Bacana, pra você. E eu? Você viu meu Ibope? – Divisão do trabalho, Dilminha. O projeto é o mesmo.
– Gozado, Lula, você teve oito anos e não mudou o fator previdenciário. – Não precisava, Dilma. Fui reeleito. Você foi eleita. – Captei: eu quebro a Previdência pra te eleger, é assim? – Não grita, querida! O mundo não nasceu hoje: eu comecei a quebrar o país pra te eleger. Todo mundo que lê jornal sabe disso.
– Jornal, Lula, sério? E a tua história da mídia malvada? E essa grana que nós torramos com os puxa-sacos dos blogs? Aliás, puxa-sacos teus! Eles estão nessa do "Fora, Levy" e quase pedem a minha cabeça. Pagos pela Petrobras, logo a Petrobras. Tem graça? – Grana de troco, Dilminha. Você vem falar disso no meio da Lava Jato?
– Lava Jato, Lula, bem lembrado. Gabrielli era teu, não meu. Vaccari, teu. A turma das empreiteiras, teus chapas. Minha era a Graça, que sacrifiquei. – Para, Dilminha. E daí? – Daí, é a tua herança. Tem o Moro, que vai chegar nas elétricas. Querem abrir os segredos do BNDES. Tem o impeachment, sabe o que é isso? E justo você quer incendiar meu governo! Não admito essa campanha contra o Levy. – Querida, sou candidato. É esse o projeto. Até a eleição, preciso da esquerda.
– Sei, depois é outra coisa, né? Você governou com o Levy, quando precisou. Eu não posso? – De novo, Dilminha, esse papo? – Esquerda até 2018, depois Odebrecht. Cara de pau! – Devagar, querida. Chantagem, agora?
– Agora é você que está gritando, Lula. – Olha bem pra mim: sou o o cara, lembra? – O cara? Olha em volta, é só ruína. O Dirceu, o Palocci. Vaiam o PT na rua. Pelo menos o Levy dá editoriais a favor. Esses caras dos jornais acreditam em ajuste fiscal, saci-pererê, mula-sem-cabeça. São minhas únicas vitórias no Congresso. Preciso de uma trégua, Lula.
– Querida, você não aprende mesmo. É política, isso. Segura a onda. Fica com os editoriais, eu fico com o Stédile. É o que tenho, hoje. Mas sem chantagem! Esquece os meninos do MBL. Você viu, não são nada. Impeachment? Desencana. Você não é o Collor, porque tem o PT. Ainda. Enquanto eu quiser.
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