sábado, 18 de julho de 2020

O Brasil invisível e anônimo que carrega a dor da pandemia

Quando esta guerra contra o coronavírus terminar, todos os trabalhadores invisíveis e anônimos terão que ser condecorados, a maioria entre os mais pobres, que estão se sacrificando para que o país não pare.

É o Brasil que merece nosso respeito, gratidão e amor. É um Brasil sem guerras ideológicas, de direita e de esquerda, que se sente unido por uma mesma responsabilidade para com o país. Esse Brasil heroico que mantém o país funcionando e evita milhares de vítimas. É o que não distribui armas para se matar, mas serviços para que a maioria da população possa pensar em se proteger melhor do contágio. É esse exército que todas as manhãs deixa a segurança de sua casa para que os mercados, as farmácias, o serviço de coleta de lixo, os transportes e a segurança pública continuem funcionando. E toda essa nuvem de sacrificados entregadores para que não falte comida à grande maioria das pessoas.

São os que no anonimato cuidam dos hospitalizados, bem como os coveiros que até substituem os parentes dos mortos no carinho que eles não podem lhes dar na despedida.

E existe esse outro exército anônimo de pessoas de todas as categorias que estão ajudando de mil maneiras aqueles que ficaram sem nada e não têm nem o que comer. Penso nos meus amigos César e Fátima que cozinham todos os dias para que 100 crianças de famílias carentes de uma pequena cidade na região dos Lagos, no Rio de Janeiro, possam comer um prato de comida quente todos os dias. É esse rio de generosidade que está correndo pelas veias de milhares de brasileiros. E é o Brasil não envenenado pela política do ódio e para quem a dor alheia está acima das ideias políticas e religiosas.

É o Brasil que nos momentos de dor nacional descobre seus melhores sentimentos de empatia e compaixão pelo próximo que sofre. É o Brasil que faz com que nos momentos dramáticos de calamidade e de luto seja capaz de mobilizar dentro de si o mais sublime do ser humano, como a capacidade de detectar a dor dos outros.

E não falo de religião. Nos Evangelhos, na parábola do bom samaritano, Jesus elogia o ateu que passando ao lado de um ferido o leva consigo para curá-lo, enquanto critica o religioso que, pelo contrário, havia passado sem nem sequer parar diante do homem ferido. Não é uma questão de religião, mas de ter um coração de sangue ou de pedra.

E é esse rio de generosidade nos momentos dramáticos da vida de um povo o que o torna digno de ser recordado na história. Esse Brasil anônimo que está se sacrificando e se expondo ao perigo para que o país não paralise merecerá ser lembrado para sempre como um exemplo não só de civilização, mas de grandeza de alma e de coração.

Muitos deles também serão vítimas da pandemia e nos terão deixado o exemplo de sua dignidade como cidadãos e pessoas. Para nós deverão continuar vivos em nossa gratidão e recordação. Este é o melhor exemplo de civilização que poderemos ensinar às crianças nas escolas.

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