Lideramos os rankings mundiais em novos casos por milhão de habitantes. A situação que se antevê para os próximos dias nos hospitais é de absoluta catástrofe. Basta fazer as contas. Em Portugal, em média, por cada dia com 10 mil novos casos, chegarão à unidades de cuidados intensivos 150 pessoas cerca de 10 dias mais tarde. Segundo os especialistas, ao fim de sete dias nestes valores, é expectável que cheguem cerca de mil pessoas às UCI portuguesas. Já tivemos 9 dias à volta dos 10 mil novos casos. Hoje, num domingo, um dia em que tradicionalmente os números caem, não saímos desta marca. A própria capacidade de testagem do País está no limite. O cenário é ainda pior do que aquele que estamos a ver. Há muitas centenas de novos casos por dia não contabilizados que ficam fora do sistema, dizem os especialistas.
Não seria um problema dramático se tivéssemos espaço suficiente para doentes graves nos cuidados intensivos do País. Acontece que não temos. Nem lugares, nem equipamentos, nem médicos. Aumentámos muito as vagas disponíveis, é um facto, mas que no limite, segundo a ministra da Saúde podem chegar às 1000. Em nove dias, supondo que as médias se mantêm, 1300 doentes terão necessidade de entrar nas UCI. Que mesmo que estivessem completamente vazias à sua espera (cenário obviamente inverosímil), já não existiria capacidade suficiente. Os privados pouco ou nada podem ajudar – a sua capacidade nos Cuidados Intensivos não chega aos 200 lugares.
Já estamos, como é evidente, a ver a ponta deste icebergue em que vamos embater. E ainda estes contágios dos últimos dias não estão a chegar às UCI. Já só estão a ser enviados para lá os doentes que têm mesmo hipóteses de sobreviver, e não todos, como acontecia antes e é devido. Uma pequena hipótese é uma hipótese, e merece ser atendida. Agora não é. Deixa-se morrer.
Os hospitais estão no limite, as urgências mergulhadas no caos e as enfermarias a rebentar pelas costuras. Já se morre à porta dos hospitais dentro das ambulâncias em fila. A taxa de mortalidade nas UCI saltou de 18% para 40%. Os médicos estão esgotados, física e psicologicamente. Ninguém está preparado para ver morrer tanta gente em tão pouco tempo.
Enquanto isso, o que se passa por este Portugal?
Está tudo alegremente a tentar fingir que não vê a montanha branca que surge claramente ao fundo.
Temos um Estado de Emergência light. Um confinamento que é só “assim assim”, com tantas exceções como os buracos que um queijo suíço. Não é suposto andar na rua, mas pode-se fazer uma série de coisas na rua. Passear o cão, ir às compras, fazer aquele passeio higiénico que dá para tudo. As escolas continuam abertas – sem quaisquer estudos que confirmem as declarações benevolentes de que os contágios não acontecem nestes espaços fechados onde se acumulam miúdos. Os talhos, as mercearias, os bancos, as lojas de ferragens e de telecomunicações, os oculistas, os mercados, os hortos, as papelarias e quiosques, os jardins, os paredões, as praias – está tudo aberto e à pinha. Os cafés e restaurantes servem ao postigo e em take away, e à porta acumulam-se clientes em amena cavaqueira.
As campanhas eleitorais de todos os candidatos (exceção feita a Tino de Rans), essas, prosseguem como se nada fosse, com candidatos a passearem-se por aí, a juntarem pequenas comitivas e a acumularem pessoas em espaços fechados ou nas deslocações. Há mesmo jantares-comício onde se juntam 170 pessoas à mesa. O que se passa é uma absoluta irresponsabilidade e um péssimo exemplo para os cidadãos.
Nas televisões generalistas há uma realidade paralela diariamente a entrar pela casa das pessoas e a fazer crer que nada acontece. Nos programas da manhã e da tarde, está tudo nos estúdios a conviver sem proteção. Exatamente aquilo que não é suposto a população fazer em suas casas.
E o governo, o que faz? Gerir uma pandemia nestes moldes é uma tarefa altamente complexa, ninguém duvida. Mas nos últimos meses, não faz o suficiente. Lembra-me a orquestra do Titanic a tocar e a animar a audiência. Muniu-se de wishful thinking, distanciou-se da realidade e tem falhado a sua missão. Tem confiado demais no bom senso da população, que infelizmente não existe, depois de tantos meses de saturação. E não acautelou bem esta vaga nos hospitais, quando ficou claro logo no dia 30 que ela iria acontecer. Finge que está tudo bem, mesmo quando está uma catástrofe anunciada. A cada dia que passa, perde autoridade.
Não gosto de fazer de arauto da desgraça, mas mais uma vez, não, não está tudo bem. Já não vamos a tempo de desviar o Titanic da rota do icebergue. O governo não se pode demitir e tem de chefiar esta manobra de emergência com determinação: tem de fechar as escolas e tem de reduzir as exceções imediatamente. É evidente que agiu tarde e falhou. E é bom percebermos que temos todos de arregaçar as mangas, vestir os coletes e preparar o botes salva-vidas. O perigo é real, e é para todos – doentes Covid e não Covid. É tempo de levar isto a sério, com toda a responsabilidade. Não é admissível que se continue a assobiar para o lado.
Os hospitais estão no limite, as urgências mergulhadas no caos e as enfermarias a rebentar pelas costuras. Já se morre à porta dos hospitais dentro das ambulâncias em fila. A taxa de mortalidade nas UCI saltou de 18% para 40%. Os médicos estão esgotados, física e psicologicamente. Ninguém está preparado para ver morrer tanta gente em tão pouco tempo.
Enquanto isso, o que se passa por este Portugal?
Está tudo alegremente a tentar fingir que não vê a montanha branca que surge claramente ao fundo.
Temos um Estado de Emergência light. Um confinamento que é só “assim assim”, com tantas exceções como os buracos que um queijo suíço. Não é suposto andar na rua, mas pode-se fazer uma série de coisas na rua. Passear o cão, ir às compras, fazer aquele passeio higiénico que dá para tudo. As escolas continuam abertas – sem quaisquer estudos que confirmem as declarações benevolentes de que os contágios não acontecem nestes espaços fechados onde se acumulam miúdos. Os talhos, as mercearias, os bancos, as lojas de ferragens e de telecomunicações, os oculistas, os mercados, os hortos, as papelarias e quiosques, os jardins, os paredões, as praias – está tudo aberto e à pinha. Os cafés e restaurantes servem ao postigo e em take away, e à porta acumulam-se clientes em amena cavaqueira.
As campanhas eleitorais de todos os candidatos (exceção feita a Tino de Rans), essas, prosseguem como se nada fosse, com candidatos a passearem-se por aí, a juntarem pequenas comitivas e a acumularem pessoas em espaços fechados ou nas deslocações. Há mesmo jantares-comício onde se juntam 170 pessoas à mesa. O que se passa é uma absoluta irresponsabilidade e um péssimo exemplo para os cidadãos.
Nas televisões generalistas há uma realidade paralela diariamente a entrar pela casa das pessoas e a fazer crer que nada acontece. Nos programas da manhã e da tarde, está tudo nos estúdios a conviver sem proteção. Exatamente aquilo que não é suposto a população fazer em suas casas.
E o governo, o que faz? Gerir uma pandemia nestes moldes é uma tarefa altamente complexa, ninguém duvida. Mas nos últimos meses, não faz o suficiente. Lembra-me a orquestra do Titanic a tocar e a animar a audiência. Muniu-se de wishful thinking, distanciou-se da realidade e tem falhado a sua missão. Tem confiado demais no bom senso da população, que infelizmente não existe, depois de tantos meses de saturação. E não acautelou bem esta vaga nos hospitais, quando ficou claro logo no dia 30 que ela iria acontecer. Finge que está tudo bem, mesmo quando está uma catástrofe anunciada. A cada dia que passa, perde autoridade.
Não gosto de fazer de arauto da desgraça, mas mais uma vez, não, não está tudo bem. Já não vamos a tempo de desviar o Titanic da rota do icebergue. O governo não se pode demitir e tem de chefiar esta manobra de emergência com determinação: tem de fechar as escolas e tem de reduzir as exceções imediatamente. É evidente que agiu tarde e falhou. E é bom percebermos que temos todos de arregaçar as mangas, vestir os coletes e preparar o botes salva-vidas. O perigo é real, e é para todos – doentes Covid e não Covid. É tempo de levar isto a sério, com toda a responsabilidade. Não é admissível que se continue a assobiar para o lado.
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