Mas esse caráter tardio não significa que a decisão da Moody’s deve ser desprezada ou ignorada. É importante analisar o que aconteceu com a economia nacional no intervalo entre dezembro do ano passado, quando a Fitch foi a segunda agência a tirar do Brasil o grau de investimento, e agora. Esses dois meses foram os primeiros com a Fazenda sob o comando de Nelson Barbosa, um dos defensores da gastança desenfreada que ajudou a colocar o país na situação atual. Nesse tempo, a única ação do governo foi associar intimamente o sucesso do ajuste fiscal à aprovação da CPMF: sem o novo imposto o Brasil viveria o apocalipse, a julgar pelos discursos de ministros e até da presidente Dilma Rousseff. Tudo isso sem nenhum esforço autêntico de corte de gastos na inchada máquina pública.
Os rebaixamentos são alertas aos quais o governo não tem dado ouvidos
Na nota em que justifica a decisão, a Moody’s diz que o país vive “perspectiva de deterioração adicional dos indicadores de dívida do Brasil em um ambiente de baixo crescimento, com a dívida provavelmente excedendo 80% do PIB nos próximos três anos” – uma porcentagem perigosíssima, já que a dívida brasileira é contraída a juros altos, enquanto outros países com relação dívida/PIB muito maior, como Estados Unidos e Japão, pagam juros baixíssimos e conseguem honrar seus compromissos sem dificuldade. Para um país como o Brasil, dívida em crescimento disparado com PIB em queda é uma combinação insustentável no médio e longo prazo.
Some-se a esse cenário a tolerância governamental com déficits primários. Depois do rombo de R$ 111 bilhões em 2015, quase 2% do PIB (para se ter uma ideia do tamanho do fracasso, no início do ano passado a meta era de superávit primário de 1,1% do PIB em 2015), o ministro Nelson Barbosa lançou a ideia de uma “banda de flutuação” para o superávit, que poderia inclusive prever novos resultados negativos sem problema algum, em caso de arrecadação menor que a prevista no ano. Além disso, o Banco Central também tem sua credibilidade questionada depois da decisão de manter a Selic nos atuais 14,25% ao ano – não tanto pela taxa em si (pois até mesmo alguns economistas ditos ortodoxos já questionam a eficácia de juros ainda maiores em um cenário de recessão), mas pelas circunstâncias que a rondaram, como a incomum nota do presidente do BC, Alexandre Tombini, na véspera do anúncio da manutenção dos juros, e seu encontro com Dilma Rousseff dias antes da reunião do Copom – o governo tem interesse direto no fim do ciclo de aperto monetário, e o PT é crítico contumaz da elevação dos juros.
Infelizmente não há nada no horizonte que permita prever uma reversão deste quadro no futuro próximo. O controle da inflação, a julgar pelas decisões recentes, acabará sendo feito via desemprego, o que significa dias ainda mais sombrios para os brasileiros. Sem nenhuma disposição para o corte de gastos e sem apoio no Congresso e entre a população para elevar a carga tributária, a única saída do governo será endividar-se ainda mais. Os rebaixamentos são alertas; Dilma, Barbosa e os demais responsáveis pela crise não podem dizer que não sabiam de nada – o fato de não terem dado ouvidos aos avisos só aumenta sua culpa.
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