sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Agrogolpismo ameaça democracia e financia vivandeiras de quartel

Quando os bolsonaristas começaram a fechar rodovias, o procurador Mário Sarrubbo avisou que havia uma organização criminosa por trás dos protestos contra o resultado das urnas. Investigações da Polícia Federal mostram que o chefe do Ministério Público paulista tinha razão.

Em ofício enviado ao Supremo, a PF identificou dezenas de suspeitos de financiar os atos golpistas. Com base no relatório, o ministro Alexandre de Moraes mandou bloquear as contas bancárias de 43 pessoas físicas e jurídicas.

A lista é dominada por empresários e empresas agrícolas e de transporte de cargas. Uma delas tem nome sugestivo: Berrante de Ouro Transportes Ltda. Sua sede fica em Sorriso (MT), que reivindica o título de capital nacional do agronegócio.


Jair Bolsonaro se aliou aos setores mais atrasados do ruralismo, que se recusam a adotar práticas sustentáveis e respeitar a legislação ambiental. Em sintonia com a turma, desmantelou o Ibama, cancelou multas e encarregou um ministro de “passar a boiada”.

A derrota do capitão criou um problema para esses empresários. Em vez de modernizar seus negócios, eles querem empastelar a democracia e impedir a posse do presidente eleito.

O dinheiro do agrogolpismo abastece as vivandeiras de quartel. Em Brasília, elas acampam diante do QG do Exército, conhecido como Forte Apache. No Rio, aboletam-se em frente ao Palácio Duque de Caxias, antiga sede do Ministério do Guerra. As aglomerações se arrastam há três semanas sem que os militares se mexam para dispersá-las.

Na terça-feira, o general Villas Bôas criticou a imprensa e saiu em defesa dos radicais. Classificou-os como pessoas “identificadas com o verde e amarelo” que estariam preocupadas com “ameaças à liberdade”. De ameaças o general entende bem. Em 2018, ele pressionou o Supremo a manter o candidato do PT na cadeia, facilitando a vitória da extrema direita.

As cenas de bolsonaristas em transe, escalando caminhões ou cantando o Hino Nacional para um pneu, podem passar a ideia de que os atos golpistas são inofensivos. É um erro encará-los assim. Desrespeitar o resultado das urnas e pregar o rompimento da ordem constitucional é crime, lembra o ministro Moraes. As instituições precisam se defender de quem quer destruí-las.

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