sexta-feira, 3 de julho de 2015

Quando inteligência e ignorância se cruzam


Dizem as pessoas que conhecem pessoalmente o ex-presidente Lula – “Nosso Guia”, segundo o jornalista e escritor Elio Gaspari – ou com ele convivem, que S. Exa. é dotado de extraordinária inteligência. Com o ex-líder sindical não tenho relações de nenhuma espécie. Nem sequer cheguei alguma hora a vê-lo de perto ou, como aprazia a Machado de Assis, com graça e ironia, também nunca nos vimos de vista e de chapéu. Nesse ponto, há uma pequena e insignificante dúvida entre mim e minha mulher. Refere-se esta a um voo de Belo Horizonte a São Paulo, ainda no tempo das vacas magras de derrotado em eleições presidenciais – época seca e dura, em que não havia jatinhos de empreiteiros a sua disposição, e a sua desdita era amargar, como o personagem machadiano amargava a tocha em vez da glória do pálio, aviões comerciais, sempre desconfortáveis, como piores são hoje em dia. Nesse voo, estaríamos nós. Entretanto, desse desprazer não desfrutei, simplesmente porque não me lembro do acontecimento que hoje não me festeja nem me amarga as retinas, já bem cansadas, como lamentava o grande poeta.

Curioso é que a minha companheira até hoje se lembra de que, durante a viagem, o futuro Nosso Guia parecia agitado, levantando-se seguidamente da sua poltrona para segredar algo a dois ou três companheiros, mas o que seria? Claro, não o sabemos. Retomemos o assunto desta crônica e abandonemos o desvio que, de fato e de direito, não interessa a ninguém.

Acredito no depoimento de que o companheiro dos outros em lutas e reivindicações sindicais tenha recebido, ao nascer, uma inteligência invulgar. Afinal, chegar ao porto em que fundeou não é mole; antes, uma façanha que pouquíssimos conseguem realizar. Nas condições em que lutou, o destino e a inteligência pactuaram a rara aventura e o elevaram às alturas.

Curioso é que só aquela última não basta. Se tivesse buscado o saber, o conhecimento formal, uma boa cultura e o aprendizado de invejável formação e grandeza moral, principalmente a pública, poderia ter-se tornado um político imbatível, livrando-se dos transes em que se meteu, pelo bem do Brasil e nossa sorte. Já pensaram em um Lula assim acabado? Não o sendo, foi nosso mal. Sim, porque carece o homem público, o líder sindical, o homem do povo da qualidade do sabedor e de uma dose bem maior de sabedoria, se é que bafejado por alguma, talvez o primado de tudo.

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Sabedoria em abundância, que Salomão pediu a Deus que lhe desse quando foi comunicado de que seria rei: “Dai, pois, ao vosso servo um coração sábio, capaz de julgar o vosso povo e discernir entre o bem e o mal, pois, sem isso, quem poderia julgar o vosso povo, um povo tão numeroso?” Esbraveja Lula repetidamente que o ajuste fiscal não é um fim em si mesmo. Parece que ouviu a expressão, gostou dela, achou-a elegante e adotou o truísmo para todas as horas, esquecendo-se de que a utilização de meio apropriado para a realização de objetivo lícito e indispensável se equivale para quem tem a honra de chefiar a nação e o dever de promover a felicidade do povo. 

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