segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Porque me desfiliei do PT

Eu ainda era uma adolescente quando me identifiquei com os ideais do PT. Era aluna de um colégio religioso, onde sempre aprendi a ter um olhar mais acurado para os mais necessitados. Foi nas salas de aula desse colégio que conheci minha professora de Religião, Cleonice, que era um exemplo de ética e comprometimento, que despertou em mim valores que trago até hoje.

Cleonice foi candidata a vereadora pelo PT em 1988 e tornou-se um modelo de luta política para muitos de seus alunos, como foi para mim. Anos depois, meu pai também filiou-se ao PT, e os ideais que havia aprendido nas cadeiras escolares eram uníssonos com meu seio familiar. Com orgulho, finalmente, me filiei ao PT.


Chorei de emoção com a posse do Lula. Aquele operário tinha, finalmente, alcançado o lugar pelo qual tanto lutou. Era a voz de milhões de brasileiros que, assim como ele, tinham origem humilde. Os avanços dos programas sociais dos governos do PT são inquestionáveis; a mudança no cenário da fome e da miséria não pode ser ignorada! Mas o PT era muito mais que isso. Era um partido que combatia os corruptos, que pediu o impeachment do Collor, que denunciou inúmeras atividades ilícitas dos governos anteriores e que sempre nos fez acreditar que, quando chegasse ao poder, faria uma varredura pela ética e moral e que nos levaria a pensar: por que eles não chegaram ao poder antes?

Assumiram o poder com a sede de justiça social, esquecida até então, mas mantendo os mesmos esquemas de corrupção e práticas conservadoras para ter sempre o apoio de uma base aliada e governável. Com o avanço das investigações da operação Lava-Jato, ainda que alguns princípios constitucionais estejam sendo ameaçados, ainda que a balança das investigações esteja pesando um pouco mais para o lado esquerdo, compreendemos o quão endêmica é a corrupção no nosso país e o quanto é difícil de mudar esse sistema quando se chega ao poder. Ser defensor da ética e primar pela lisura no que diz respeito aos interesses públicos significa encontrar barreiras quase intransponíveis para governar e sofrer todo tipo de oposição pelo simples fato de mexer no bolso daqueles que buscam a política apenas para enriquecer e participar de esquemas de lesão ao Erário.

Como dizia Cazuza, o poeta visionário que nos deixou precocemente: “Meus heróis morreram de overdose.” É o sentimento que tenho hoje. Perdi meus heróis políticos, pessoas que, para mim, eram honradas e éticas e que se corromperam pelo sistema como jamais imaginei que se corromperiam. Senti-me uma órfã política, parte da minha identidade política moldada ainda na adolescência trazia uma estrela cravada no peito. Eles morreram de uma overdose de poder, de impunidade, de falta de compromisso com uma história partidária, com uma história de luta e de um sonho que nutrimos por décadas e décadas. Nossa estrela maior era a ética.

Em outubro de 2015, desfilei-me do PT, seguindo os passos do meu pai, e desoPTei em fazer parte de um partido que já não traz consigo mais nenhum ideal do que foi outrora. Nem os trabalhadores eles defendem mais, nem as mulheres eles defendem mais. Então, diante de todo o cenário negativo que pairava sobre o partido, acreditava que nada mais poderia piorar. Até que, para minha surpresa, um prefeito de um município do Estado do Rio, eleito pelo PT, vem a público defender o pré-candidato a prefeito do Rio, que agrediu sua mulher, dizendo que “qualquer um já perdeu a cabeça um dia”.

Quando li essa declaração infeliz, tive certeza de que havia tomado a decisão certa, ainda que tenha sido dolorosa pela história política que vivenciei. Quem agride uma mulher, uma, duas vezes, não pode ocupar nenhum cargo no poder. O PT, mais uma vez, escolhe caminhos duvidosos ao apoiar a candidatura do agressor, em troca do apoio do seu partido na base do governo federal.

A todos esses que defendem ou minimizam a atitude do pré-candidato à prefeitura do Rio, eu os respondo também com os versos de Cazuza: “Meus inimigos estão no poder”! Como é que o partido da presidenta, o partido que no governo está construindo a Casa da Mulher Brasileira (espaço para acolhimento às mulheres vítimas de violência), defende um agressor de mulher? Não encontro tal resposta, tampouco consigo compreender onde tudo se perdeu? Apenas sei que se continuasse a compactuar com eles, também estaria perdida. Lutar contra os “inimigos das mulheres” é meu ponto de partida.

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