Do meu lado, em 1990, enxergar a luz no fim do túnel era coisa para sonhadores. Hoje sei que fui parte de geração órfã de esperança. Que nasceu e cresceu ao som (ou barulho) da propaganda do Brasil grande durante a ditadura. Por toda parte, diziam que era potencia emergente, pais do futuro, que vai para frente. Que ninguém segurava. E, de vez em quando, um sussurro aqui, um gemido ali, e dor por toda parte. Sempre vindo dos porões.
Adolescente, as coisas começaram a mudar. Diziam que era culpa do petróleo. Crise externa, enfim. Mas dentro das fronteiras, o futuro já não tinha o brilho de antes. E o presente, sem duvida, estava mais feio.
E vieram os anos 1980. Desastre. O futuro havia chegado, mas tinha cara de mentira, desilusão, tristeza. A gente não soube escolher presidente. A gente não soube tomar conta da gente. A gente pediu dinheiro e não conseguiu pagar. A gente jogou bola e não consegui ganhar. Foi, realmente, uma década inútil.
Vieram os anos 1990 e a luz parecia jamais chegar. Era uma no cravo, outra na ferradura. Sempre um sacrifício justificado pelos erros do passado e somente possível pela promessa de um futuro (ele de novo) melhor onde os frutos seriam colhidos.
Já na passagem do milênio, pareceu que a geração dos órfãos de esperança poderia ser resgatada. Eleições, transição pacifica, casa em ordem. Finalmente tanto sacrifício, tanto esforço, parecia fazer sentido.
Até que a gente decidiu pela auto sabotagem. Pelo culto a ignorância. Pela tolerância ao erro. Pela corrupção da alma e das coisas. Tudo isto enquanto, distraídos, pisávamos nas estrelas, empenhando o futuro para aproveitar o presente. Acreditamos no almoço grátis.
E foi no meio disso tudo, que um dia Antonio me ligou. “Me mudo para a Europa no mês que vem. Não volto mais!”, disse ele. Fiquei chocado. Lembrei-me de seus argumentos. Da crise passageira. Da manteiga. Perguntei sobre a luz no fim do túnel. Não existia? “Existia sim. Era um trem.”, respondeu ele sem pestanejar.
Antonio, sempre pragmático, preferiu estar certo a ser coerente. E foi morar na Europa.
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