Ditadas por “raiva” e “indignação” de parcelas da população que se sentem menosprezadas por elites, abandonadas por partidos, negligenciadas pelos serviços públicos de baixa qualidade e assustadas com violência e desemprego, além de horrorizadas com a corrupção, essas “demandas” seriam similares em sua essência e razoavelmente comparáveis quanto ao objetivo: derrubar o que está aí na política, cada vez mais desprezada. Se assim é, falta explicar como se chega a resultados tão diferentes, em termos de “rompimento” ou “coesão” dos diversos sistemas políticos.
O México trouxe um interessante exemplo no último domingo de “rompimento” do que existia – a recém-reconquistada predominância de um partido que fora hegemônico, o PRI – por um movimento político que não existia há dois anos, que se diz de esquerda, e que alcançou em prazo recorde o controle inédito das casas do congresso, grande número de governos estaduais e a presidência. Em outras palavras, a refundação de uma espécie de PRI com outro nome (Morena). A capacidade do novo presidente mexicano de sobreviver às receitas que apregoa, e que levaram ao desastre econômico onde quer que foram aplicadas, é um outro capítulo e fica para depois.
Tal como está o quadro eleitoral brasileiro, e ao se tomar ao pé da letra as pesquisas qualitativas, o eleitorado “demanda” candidatos que apregoem o rompimento mas a “indignação”, “raiva” e “desprezo” pela política se manifestam aqui em tal magnitude a ponto de tornar difícil apostar hoje (isso ainda pode mudar, admito) numa saída a la mexicana, entendida como consolidação de uma só forte tendência política. Por enquanto admite-se que as eleições produzirão no Brasil um presidente que responde à “demanda” do rompimento mas que será obrigado a lidar com um congresso com o mesmo perfil do atual, senão pior.
Há uma interessante divisão entre analistas políticos frente a duas decisivas perguntas: as regras do jogo, que favorecem a “velha” política (entendida como acesso a tempo de TV, fundos partidários e eleitorais, capilaridade nas relações com prefeituras, concessão de emendas parlamentares), pesam mais ou pesam menos do que o encurtamento da campanha e a menor importância relativa da TV aberta frente a redes sociais? A narrativa predominante no eleitorado de que a corrupção é o principal problema atua de forma decisiva a limitar as formas consagradas (“velhas”) de se fazer política e campanha eleitoral?
Das respostas depende a previsão se o segundo turno terá “reformistas” (identificados como velhos) em disputa contra candidatos do “rompimento” ou se “rompedores” se enfrentarão entre si. Neste começo de julho, um grupo crescente de analistas (entre os quais me incluo) tende a afirmar que as chances de “reformistas” são consideradas exíguas, a elas não se atribui grande capacidade de recuperação no curto período de campanha, e menos ainda a habilidade de satisfazer a “demanda” por combate à corrupção e insegurança pública.
A perspectiva é sombria para um país que precisa lidar urgentemente com questões, especialmente a fiscal, que não estão esperando a sociedade definir-se ou aguardam lideranças costurarem qualquer tipo de acordo. Espero estar errado.
Tal como está o quadro eleitoral brasileiro, e ao se tomar ao pé da letra as pesquisas qualitativas, o eleitorado “demanda” candidatos que apregoem o rompimento mas a “indignação”, “raiva” e “desprezo” pela política se manifestam aqui em tal magnitude a ponto de tornar difícil apostar hoje (isso ainda pode mudar, admito) numa saída a la mexicana, entendida como consolidação de uma só forte tendência política. Por enquanto admite-se que as eleições produzirão no Brasil um presidente que responde à “demanda” do rompimento mas que será obrigado a lidar com um congresso com o mesmo perfil do atual, senão pior.
Há uma interessante divisão entre analistas políticos frente a duas decisivas perguntas: as regras do jogo, que favorecem a “velha” política (entendida como acesso a tempo de TV, fundos partidários e eleitorais, capilaridade nas relações com prefeituras, concessão de emendas parlamentares), pesam mais ou pesam menos do que o encurtamento da campanha e a menor importância relativa da TV aberta frente a redes sociais? A narrativa predominante no eleitorado de que a corrupção é o principal problema atua de forma decisiva a limitar as formas consagradas (“velhas”) de se fazer política e campanha eleitoral?
Das respostas depende a previsão se o segundo turno terá “reformistas” (identificados como velhos) em disputa contra candidatos do “rompimento” ou se “rompedores” se enfrentarão entre si. Neste começo de julho, um grupo crescente de analistas (entre os quais me incluo) tende a afirmar que as chances de “reformistas” são consideradas exíguas, a elas não se atribui grande capacidade de recuperação no curto período de campanha, e menos ainda a habilidade de satisfazer a “demanda” por combate à corrupção e insegurança pública.
A perspectiva é sombria para um país que precisa lidar urgentemente com questões, especialmente a fiscal, que não estão esperando a sociedade definir-se ou aguardam lideranças costurarem qualquer tipo de acordo. Espero estar errado.
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