quarta-feira, 16 de junho de 2021

O castigo veio a cavalo

Dizem que os deuses punem os mortais atendendo a seus desejos. Não muito tempo atrás, nos anos 90, cientistas políticos, jornalistas e a opinião ilustrada em geral se queixavam da pouca diferenciação ideológica entre partidos políticos no Ocidente e pediam um pouco mais de polarização.

Àquela época, dizia-se, em tom de “demi-chiste”, que tanto fazia ter um democrata ou um republicano na Casa Branca, desde que Alan Greenspan seguisse no comando do Fed, o banco central dos EUA.


O castigo veio a cavalo. A partir da segunda década do século 21, vem-se tornando cada vez mais comum o diagnóstico de que a polarização é o verdadeiro “mal-du-siècle”, sendo responsável pela radicalização política e pelo retrocesso democrático experimentado em vários países. Não são poucos os que ligam o aumento da polarização ao advento das redes sociais e às bolhas de informação que elas criam.

Não discordo dessa análise, mas as coisas são sempre um pouco mais complicadas do que parecem. Há trabalhos que mostram que, em vários casos, as populações mais radicalizadas são justamente as que têm menos acesso à internet, o que torna necessário encontrar explicações mais sofisticadas para os mecanismos pelos quais a radicalização ocorre.

Um ponto que gostaria de destacar é o personalismo. Também na contramão dos anos 90, o avanço do autoritarismo hoje é indissociável de figuras carismáticas, que são idolatradas por parcelas variáveis da população. Se antes ainda havia as ditaduras mantidas por juntas ou partidos hoje a regra é a erosão das instituições democráticas promovida por líderes populistas, do que dão testemunha figuras como Trump, Putin, Orbán, Netanyahu, Bolsonaro.

O lado positivo é que não é preciso recorrer às armas ou a revoluções populares para derrubá-los. Como mostram os casos americano e israelense, eles também podem ser removidos pelo voto ou por arranjos políticos.

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