Peço permissão para fazer tal analogia, guardado o respeito a um personagem sagrado e universal. Mas diante da passividade e embotamento que a civilização vai se submetendo diante do avanço tecnológico, maquinizado e escravizado por eletrônicos, me pus a pensar sobre o papel de um doutrinador e evangelizador em tempos de conectividade ilimitada. Poderia ser Buda, Maomé, Confúcio também.
Usaria Jesus para propagar seus ensinamentos as redes sociais? Teria página no Facebook, Instagram? Tuitaria o dia inteiro em sábias frases de 140 caracteres?
Faria uso de um canal do YouTube, em que relataria suas andanças por Canaã, sua decepção em Nazaré, ou suas palestras em Jerusalém? Teria com seus discípulos e seguidores um grupo de WhatsApp e de forma obsessiva mandaria e receberia textos cheio de abreviaturas e emojis? Mandaria e-mails reveladores correndo o risco de hackers roubarem seu conteúdo? Ok, é divagar muito não é? Mas, com tantos memes, radicalização, fofocas violentas virtuais, com certeza a vida dEle não seria fácil. A velha expressão “nem Cristo agradou a todo mundo” adquiriria dimensões impensáveis. Haveria uma guerra virtual com os romanos que dominariam o mundo internáutico, leões invejosos e raivosos devorariam os seguidores e curtidores cristãos. Ciberbullyng e montagens photoshopadas se multiplicariam a tal ponto que o conteúdo e essência de suas lições e falas se perderiam no ódio virulento que as multimídias propagam. Ufa! Temeria por adjetivos que o perseguiriam mais que os ortodoxos judeus ou romanos colonialistas e ditadores: charlatão, falso profeta, picareta entre outras pérolas, acompanhariam suas doutrinações. Nas caóticas aparições públicas amplamente noticiadas, encontraria fãs enlouquecidos e vaias homéricas. Perderia, com razão, a paciência com as imprudentes e incontáveis selfies.
E correndo o risco de ser chamado de arrogante, mal-humorado. Em entrevistas, bastaria uma palavra mal colocada ou uma edição distorcida de suas palavras para um tsunami de críticas ostentar manchetes. Suas curas e milagres seriam questionadas e ridicularizadas: cego voltar a enxergar, morto levantar do túmulo, água virar vinho? Céticos, cientistas, blogueiros em geral o reduziriam a pó. Seria crucificado diariamente, sofreria processos em todas as áreas jurídicas, seria chicoteado virtualmente num massacre midiático incalculável. Deus realmente sabe o que faz e 2.000 anos depois é um milagre que o “verbo” sobreviva. Aliás, percebam o termo para dimensionar nosso empobrecimento pós internet: “Verbo”!
Sim, meus caros, a palavra sempre foi o instrumento de compreensão mútua, de ensinar e aprender novos conceitos e mudar a mente. É a fonte que nutre nosso conteúdo mental, a matéria-prima que ao formular pensamentos, emoções e desejos, permite que a doutrina que Cristo nos passou tenha se eternizado. Mas, convenhamos, se fosse contemporâneo teria sido quem foi? Sem contar o carisma que desaparece nas telas, pois é uma energia que só o presencial nos permite.
Há na vida elementos que deveriam ser degustados, experimentados com calma e tempo, assim são as sensações. O mundo deveria entrar em nós pala audição, visão, olfato, paladar, tato. Ainda bem que milagres foram registrados há séculos. Hoje seriam chacotas, vitalizaria em piadinhas nas redes.
Tudo isso para concluir: como é difícil ser líder ou exercer novas ideias num universo virtual internáutico tão caótico e fútil. E olha que estamos carentes de lideranças.
Algum aplicativo poderia nos acolher?
Eduardo Aquino
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