sábado, 20 de junho de 2015

Políticos, uma espécie em extinção

Em política, uma coisa é aproveitar o descontentamento, outra é saber construir políticas de Estado
Nenhum Governo do mundo anda à frente do seu povo. A disparidade entre governantes e governados é, a julgar pela Internet, evidente demais. Sempre achei que Cristina Fernández de Kirchner zombava da história e do povo argentino ao escolher o Twitter como seu Legislativo peculiar e principal meio de comunicação. Agora reconheço que, por consciência ou intuição – o que em política deve ser a mesma coisa –, ela tinha razão.

Sempre considerei que um general elevado a presidente da Guatemala, como Otto Pérez Molina, não precisava saber o que é o passarinho azul do Twitter, mas foram as redes sociais que derrubaram a sua vice-presidenta, Roxana Baldetti, e colocaram seu Governo em evidência. Sempre achei normal o medo coletivo em relação às emissoras de TV do México por causa de seu peso político, mas depois das eleições de 7 de junho reconheço que eu tampouco sabia coisa alguma. As redes, sobretudo a Televisa, dedicaram toda a sua munição a tentar liquidar o candidato independente a governador de Nuevo León, Jaime Rodríguez, conhecido como El Bronco. Em horário nobre, quando os mexicanos imitam o povo do norte-coreano Kim Jong-un e são doutrinados sobre o que vai bem e o que vai mal, as emissoras mostraram El Bronco como uma pessoa politicamente incorreta e incômoda. Mas, quando as urnas foram fechadas, El Bronco tinha o dobro dos votos dos outros candidatos.

O mundo mudou. Pobre daquele que não percebe. Hoje, os jovens, longe de acreditarem que a política é “um rolo dos seus pais”, compreenderam que o voto é a sua melhor arma. Atiram a queima-roupa contra uma classe política defasada e que se caracteriza – urbi et orbi – por sua comunhão com a “sacrossanta missa da corrupção”. Atiraram para mudar, não ficam em casa, nem se refugiam nas drogas ou no álcool. Atiram, querendo mandá-los embora.

Muitos acreditam no México que nada mudou depois das últimas eleições: o PRI continua sendo o principal partido, e o Governo e seus aliados têm maioria. Entretanto, tudo mudou. Não só porque um candidato independente abriu as portas a outros que poderiam chegar ao [palácio presidencial de] Los Pinos, mas também porque a “canção do futuro” já não está mais nas mãos dos partidos que passaram, na América Latina, de deter o poder a sofrer o estigma da corrupção. Basta observar o Partido dos Trabalhadores no Brasil, o Partido Revolucionário Institucional no México e o Partido Patriota da Guatemala.

Em política, uma coisa é aproveitar o descontentamento, outra é saber construir políticas de Estado. Os exemplos das forças emergentes na Espanha e os independentes no México só refletem a formalização de um Estado do desacordo, mas não garantem que isso sirva para fazer política.

Os políticos, saibam ou não, são uma espécie em extinção. Não contam com a fé coletiva nem com o respeito de seus filhos.


Este fenômeno está crescendo, mas não com a abstenção ou com o voto nulo. Qualquer geração e qualquer país têm o direito de sonhar. Isso significa usar – como já fez Lênin – os instrumentos do sistema para acabar com o próprio sistema. Agora as possibilidades são outras, e age mal quem acredita que tudo está prejulgado e que a condição humana afinal volta para o de sempre: tripas, sexo e abuso.

Por isso, a grande lição não é prestar atenção na composição dos parlamentos ou das maiorias, e sim saber reconhecer o que cheira a passado e a futuro. Não é um problema de 140 caracteres, mas sim de compreensão dos novos tempos, nos quais há outro fator: as pessoas decidiram usar o sistema para acabar com o sistema. Por isso decidem votar.

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