sábado, 20 de junho de 2015

As entrevistas de Dilma são exemplos do nosso atraso

Para quem lutou com a própria vida contra o regime militar e pela liberdade no ambiente político, a presidente Dilma Rousseff vem fazendo péssimo uso da democracia que sua geração conquistou. Sob sua responsabilidade, o Brasil se meteu em um impasse. Mas Dilma não presta contas de maneira transparente. Nem para defender posições e medidas que deve ter tomado com boas intenções, mas que deram errado.


Trabalhei pela Folha em Washington durante parte o governo George W. Bush (2001-2009). Mesmo na lama com a farsa das armas de destruição em massa para invadir o Iraque, a tortura de prisioneiros por soldados americanos em Abu Ghraib e a baixa popularidade, Bush concedia entrevistas coletivas periódicas na Casa Branca.

Era massacrado com perguntas duras, mas sempre respeitosas. E tentava tirar o melhor proveito. Muitas vezes se esquivava e era evasivo. Mas estava lá, de frente, no jogo democrático. Dando satisfações aos cidadãos do país que representava.


Como Dilma, Bush mentiu e se reelegeu. Mas, diferentemente da brasileira, prosseguiu com o ritual de coletivas a jornalistas. Já nossa presidente não fala, não se expõe e ignora prestar contas de um governo que faz tudo ao contrário do que prometeu na eleição. Do alto do maior cargo da República, é um mais um exemplo do nosso atraso.

Neste mês, a presidente resolveu falar duas vezes. Em entrevista ao “Estado” (“Dilma pedala, alonga e diz que não sente fome”), revelou que come banana esquentada no microondas e “whey protein”. Não deixou a repórter perguntar nada fora da rotina de seu passeio.

Na segunda oportunidade, falou ao “Programa do Jô”, na Globo. Começo pelo comentário do Gordo ao final da entrevista, que definiu como “momento histórico” de seus 54 anos de profissão: “Espero que tenha sido bom, porque hoje é dia dos namorados. Temos que sair daqui os dois satisfeitos”.

A culpa não é do Jô, que abordou o tema que considera “fundamental” do Petrolão em 40 segundos de uma entrevista de 69 minutos e que acha “impressionante como o preço do dólar influi na economia do mundo inteiro”.


É da presidente, que se esconde da mídia especializada há anos e não chega nem perto de coletivas regulares. As exceções foram os modorrentos debates na eleição, sem direito a réplica dos jornalistas quando os candidatos respondiam qualquer coisa.

Mas Jô nos faz refletir com duas colocações. Quando lembra a Dilma que ela não tem mais a preocupação de conquistar um segundo mandato e, depois, quando pergunta como a presidente gostaria de ficar conhecida nos livros de história.

Como em quase toda a entrevista, a opinião de Dilma aqui não tem a menor importância.

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