A crise econômica proveniente da pandemia tem duas manifestações. De um lado, a extrema incerteza atrelada à disseminação de um vírus altamente contagioso e com taxa de mortalidade assustadora. Essa incerteza paralisa investimentores e consumidores. De outro, a resposta das autoridades de saúde pública e de diversos governos mundo afora. Para conter a epidemia, vários países decretaram fechamento de escolas, universidades, bares, restaurantes, museus, fronteiras. A indústria de turismo já sofre baque sem tamanho, as companhias aéreas que o digam. O que isso significa é que há uma paralisia sem precedentes da demanda e da oferta. A insuficiência aguda de demanda exige dos governos medidas urgentes e extraordinárias para impedir a asfixia econômica.
Como fazer isso no Brasil? O país, cuja economia enfrenta essa crise a partir de uma posição fragilizada, precisa reconhecer que o cenário mudou abruptamente. Mudanças de cenário requerem que as prioridades se reorientem. As reformas de médio prazo são importantes, mas não para agora. Para agora o que se precisa é de medidas que deem ao SUS a capacidade de atender milhares de pacientes, às pequenas empresas a liquidez de que necessitam, além de reforçar as redes de proteção social e impulsionar o investimento público. No Brasil, os vulneráveis não são apenas os idosos, mas as pessoas que trabalham na informalidade e que não terão salário se forem obrigadas a ficar em casa, as crianças que dependem das escolas para comer, as mães solteiras que poderão ter de deixar de trabalhar com o fechamento de escolas, as famílias de baixa renda que moram em favelas aglomeradas e se deslocam por meio de transportes lotados por horas a fio. No plano macroeconômico, é preciso atenuar a insuficiência aguda de demanda com investimentos públicos que criem empregos – defendo que esses investimentos sejam feitos em infraestrutura.
A crise será longa, pois a insuficiência de demanda conosco estará durante a epidemia e depois que ela se for. Estamos falando de meses, possivelmente de um ano ou mais. Portanto, urge considerar a seguinte estratégia: de início, isto é, no curtíssimo prazo, a flexibilização da meta fiscal e o uso do crédito extraordinário para liberar os recursos necessários para a saúde e para os mais vulneráveis. Isso, entretanto, poderá ser insuficiente para sustentar a economia brasileira caso a crise seja tão prolongada quanto imagino. Nesse caso, será necessário considerar a flexibilização do teto de gastos, sobretudo para dar o suporte necessário ao SUS.
A ideia de flexibilizar o teto tem gerado muita controvérsia, mas o fato é que ele, hoje, é excessivamente rígido. Muitos economistas não gostam da ideia, mas o teto não é uma vaca sagrada. O país não será castigado se tiver de modificá-lo. Os que tiverem de fazê-lo poderão salvar vidas, e no momento, é isso o que importa.
Livremo-nos das amarras que nos prendem e pensemos em conjunto como ajudar o Brasil, as pessoas. É hora de debate, sim, mas mais importante é reconhecer que é hora de agir. Não agir numa crise dessa envergadura é deixar a população exposta à loteria do vírus.
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