Afinal, o custo do impeachment para o país é muito alto. Além disso, com cerca de 30% de popularidade, trata-se na melhor das hipóteses de um sonho distante e, portanto, irrelevante. Mas ali, naquele momento, com a acusação grave e mentirosa à Justiça Eleitoral, algo deveria ter sido feito. Foi, para mim, a gota d’água. O copo transbordou.
Desde então, as indignidades de Bolsonaro só aumentaram: ele não só promoveu como participou de um protesto que pedia fechamento do Congresso e um novo AI-5, no meio de uma epidemia grave da qual ele é potencial vetor. Com seu mau exemplo, ainda desautorizou o trabalho competente do ministro da Saúde. Bolsonaro não só ataca a democracia como é um risco à saúde pública.
Para tirar fotos junto a fanáticos ignorantes, ele vai sorridente. Quando o dever chama, no entanto, Bolsonaro foge. Ausentou-se de videoconferência com líderes de países sul-americanos para discutir medidas de combate ao vírus. Se já fomos liderança continental, hoje estamos atrasados em relação aos nossos vizinhos.
Tampouco fez falta à reunião entre Maia, Alcolumbre, Mandetta, ministros do Supremo e outras autoridades. Não demonstra saber nada e nos faz passar vergonha perante o mundo. Para que serve o presidente?
Para piorar, há evidências preocupantes de que Bolsonaro acredita que a Covid-19 seja um plano chinês para prejudicar o Ocidente. Teorias da conspiração e pseudociência estão no posto mais alto da República. (Caso alguém tenha alguma suspeita: até agora, o saldo da Covid-19 para a China são 5 milhões de desempregados e redução brutal do consumo e das projeções para o PIB de 2020. Não é “histeria”.)
A confusão criada pelo presidente e seu entorno é tamanha que não temos sequer a resposta a uma pergunta simples e crucial: Bolsonaro está ou não está infectado pelo coronavírus?
Não é à toa que vozes públicas, outrora apoiadoras, estejam se arrependendo publicamente. É o caso de Francisco Razzo, filósofo conservador, em artigo para a Gazeta do Povo (“Por que me arrependo de ter votado em Bolsonaro”, 11/03). E também de Janaina Paschoal, em discurso nesta segunda-feira (16) na Assembleia Legislativa de São Paulo. No caso, ela não só se diz arrependida do apoio dado como defende o impeachment, no que tem razão.
É impossível derrubar um presidente ainda popular. A resistência seria grande demais. Além disso, o momento de crise pede toda a atenção do setor público. Não podemos nos dar ao luxo de paralisar a política por meses em meio à crise do coronavírus. Assim, por enquanto, o melhor é deixar o presidente esquecido, isolado, enquanto os adultos do Congresso e de alguns ministérios trabalham.
Ao final da crise, no entanto, caso a popularidade de Bolsonaro tenha caído devido aos problemas econômicos e à sua incompetência, que o Congresso faça logo seu trabalho.
Os crimes de responsabilidade se acumulam, com gravidade cada vez maior. As ilegalidades, as mentiras, os ataques, as indignidades, o caos, o golpismo, a covardia e a falta de liderança só vão piorar. O atual presidente é indigno do cargo, afronta nossas leis e coloca o país em risco. O Brasil é maior que Bolsonaro.
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