A crise moral e política não tem similar na história do país
A presidente da República está sendo ameaçada de impeachment. A crise moral e política por que passa o país hoje nos leva a um beco sem saída. É profundamente angustiante. Não tem similar na história. Ela já deve ter levado muita gente pobre, remediada ou rica a curandeiros, psicólogos ou psiquiatras. Os que mais sofrem – os de salário miúdo, que os obriga a matar um leão por dia – estão prestes a serem tomados pelo desespero, que nunca foi bom conselheiro. Estão revoltados com a perda paulatina das suas conquistas propiciadas pela chegada, ao Palácio do Planalto, do Partido dos Trabalhadores (PT), que já demonstrou que nada queria senão a conquista do poder pelo poder. Em vez de combater a corrupção, como prometera, chafurdou nela.
A situação se complica ainda mais quando se sabe que os presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, respectivamente, senador Renan Calheiros e deputado Eduardo Cunha, ambos do PMDB, partido que já teve seus dias de glória no combate à ditadura, estão sendo investigados pela Polícia Federal, com autorização do STF. O primeiro já foi obrigado a renunciar à presidência do Senado, em 2007, para se livrar da cassação pela Comissão de Ética da Casa, mas o processo que se abriu contra ele na Justiça (por ter usado dinheiro de empreiteira para pagar despesas pessoais, como aluguel de apartamento e pensão alimentícia à filha que teve com a jornalista Mônica Veloso) ainda continua. E sobre ele ainda pairam suspeitas de ligação com a operação Lava Jato. O segundo foi acusado de manter, em contas secretas na Suíça, por meio de empresas offshore, em torno de U$ 5 milhões, importância igual, por mera coincidência, à que lhe foi paga por três fontes da referida operação…
O que ocorreu, na quarta-feira atrasada, antes no Supremo Tribunal Federal (STF) e, depois, no Tribunal de Contas da União (TCU), é muitíssimo grave. Reflete, porém, uma esperança: a de que temos brasileiros capazes de observar a lei, a ética e, sobretudo, a Constituição Federal, mesmo com a pressão que sobre eles tentaram exercer a presidente da República e alguns dos seus principais auxiliares. Entre eles se destaca o chefe da Advocacia Geral da União (AGU), Luiz Inácio Adams, responsável pelo serviço sujo. Este tem adotado, com perfeição, como o seu amigo e xará, as mesmas táticas e estratégias para ganhar a briga e continuar no poder a qualquer custo.
Mas a novela ainda não terminou. Depois da notícia de que Hélio Bicudo incluirá, no pedido de impeachment, novas pedaladas, ocorridas em 2015, algumas estatais, segundo a “Folha de S. Paulo”, teriam repassado R$ 2,9 milhões a um instituto que tem como um dos responsáveis um sobrinho do presidente do TCU, Carlos Juliano Nardes…
A corrupção está no mundo todo, na política e/ou nas empresas, mas, no Brasil, de uns anos para cá, se institucionalizou. O economista André Lara Resende, em artigo recente, “Corrupção e capital cívico”, observou o seguinte: “A extensão e a profundidade da corrupção no Brasil atual causam perplexidade até mesmo aos mais calejados observadores. Como foi possível chegar a um tal nível de desonestidade institucional?”. É o próprio André que, em seguida, responde assim a sua aflita pergunta: “A impressão de que a desonestidade impera ajuda a racionalização do comportamento desonesto. Se todos são, ninguém é”.
Para André, não está claro como sairemos da crise. Para a maioria dos brasileiros, a saída não virá pela presidente Dilma.
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