quinta-feira, 16 de julho de 2015

Quando a tristeza e a ansiedade são bem-vindas


Phil Bliss 
Por que não curtir uma angústia acompanhada de uma solidão numa tarde fria de sábado? Ou ser assaltado por uma incômoda ansiedade quando nossa vida precisa de uma reviravolta? Quem sabe ser invadido por tristeza ao escutar aquela música que nos remete ao grande amor platônico? Pois o que anda incomodando os que militam no estudo do comportamento humano é uma epidemia de indiferença que permeia as relações humanas, um certo embotamento afetivo que nos robotiza no dia a dia.

Tudo muito bem, tudo muito certo, mas realmente ainda somos regidos por emoções e sentimentos. Por isso, não é de se estranhar que um dos grandes problemas de saúde no mundo sejam as disfunções ansiosas e afetivas. Regredimos a ponto de haver grave divórcio entre um sofisticado cérebro cortical, lógico, onde somos assaltados por excesso de pensamentos – infelizmente de conteúdos negativistas, aflitivos, estressantes, preocupações irrealistas e adoecedoras – e a parte hipotalâmica do cérebro, sede dos controles emocionais e administração do estresse.

Ou, se preferirem, escravos de uma “pensação” disparada, incapazes de relaxar, de ter prazeres e satisfações reais. Somos punidos por sentimentos de profunda depressão, medos e fobias, culpas patológicas, ciúmes doentios entre outras fragilidades emocionais.

Ora, desde que o mundo existe, usamos o universo afetivo para dar cor e calor a nossa existência. Angustiados com as trevas, dominaram o fogo e mais tarde inventaram a luz. Então, bem-vinda a angústia que cria e inventa. Alguém com culpa, inventou regras de punição para pautar as leis que permitiram surgir a civilização.

A ansiedade permitiu avanços e um ansioso quis chegar à Índia pelo mar e descobriu as Américas e um novo mundo. O medroso temendo predadores, desenvolveu moradias, e assim a humanidade caminha. Só não se inibam afetivamente, pois é empobrecedor economizar abraços entre pais e filhos, cafuné entre casais, um ombro amigo para chorar as derrotas e frustrações ou comemorar a vitória improvável. Carinho é uma linguagem que exige o olhar, o ouvido para escutar as mágoas, o tato que acalma na massagem calorosa e o paladar de uma comida caseira feita com amor.

Sentir o perfume da amada, fazer a poesia destilada pela paixão. Seja na alegria, na tristeza, na serenidade ou na aflição, no perdão ou na mágoa, o importante é sentir, pulsar e fluir sentimentos. Tudo bem para a tela, a máquina, o eletrônico, o virtual ou o game. Mas sentimento não combina com aplicativo, nem há mundo digital que substitua.

Portanto, use suas emoções! É grátis, real, e faz bem para a saúde! Mas reconheço, caminhamos para a extinção afetiva, enquanto insistirmos em não assumirmos nossas carências e continuarmos a camuflar nossas emoções.

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