A rarefeita transparência na gestão ajuda a reforçar a percepção de anarquia gerencial no SUS, uma constante nas pesquisas de opinião dos últimos seis anosUma bilionária caixa-preta — é o que sugerem os dados oficiais sobre os gastos e a eficiência de nove unidades de saúde pública mantidas pelo governo federal no Rio.
São seis hospitais (Andaraí, Bonsucesso, Cardoso Fontes, Ipanema, Lagoa e Servidores) e três institutos especializados (Câncer, Cardiologia e Traumatologia), administrados pelo Ministério da Saúde.
No ano passado, eles gastaram R$ 50,6 mil por cada internação.
Em contraste, a despesa média por paciente foi de R$ 6 mil nos três maiores hospitais municipais do Rio (Lourenço Jorge), de Nova Iguaçu (Hospital Geral) e de Duque de Caxias (Moacyr do Carmo).
Ou seja, internações nas instituições federais custaram oito vezes mais que nos três principais hospitais municipais do Rio e da Baixada.
A despesa cresce, mas o padrão de eficiência declina. Houve uma drástica redução do número de internações nos últimos seis anos.
A queda foi de 47% no Instituto de Cardiologia; de 41% no
Hospital do Andaraí; de 39% no Servidores; de 38% na Lagoa; de 30% no Cardoso
Fontes; de 28% no Instituto do Câncer, e, de 22% no Hospital de Bonsucesso.
Ano passado, essa rede federal realizou um total de 54 mil internações. No mesmo período, ocorreram 61 mil em apenas três unidades das prefeituras de Nova Iguaçu (Hospital Geral), Duque de Caxias (Moacyr do Carmo), Rio (Lourenço Jorge) e um hospital estadual (Adão Nunes).
Sozinho, com 18 mil pessoas internadas, o de Nova Iguaçu superou três federais (Andaraí, Cardoso Fontes e Servidores) que somaram 17 mil internações.
A rede federal no Rio recebeu R$ 3,4 bilhões em 2014. É um volume de dinheiro expressivo, equivalente ao que o governo estadual gastou com 60 hospitais (1.050 leitos de UTI) e serviços adicionais, como a vigilância epidemiológica.
As nove instituições federais concentram 22% dos leitos existentes na capital. Deveriam ter papel-chave no serviço de saúde aos 12 milhões de habitantes da região metropolitana. No entanto, permanecem isoladas da estrutura local, sustentam precários serviços de atendimento emergencial (num deles, o ambulatório está improvisado em contêiner), e mantêm milhares de pessoas à espera de vaga para uma cirurgia — algumas completaram uma década na fila, segundo a Justiça Federal e a Defensoria Pública da União.
A rarefeita transparência na gestão ajuda a reforçar a percepção de anarquia gerencial no Sistema Único de Saúde, uma constante nas pesquisas de opinião dos últimos seis anos.
Dias atrás, no Rio, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, reuniu-se com prefeitos, secretários e o governador do Rio e repetiu as promessas dos últimos 15 meses de mudanças na política nacional de atenção hospitalar.
Ouviu calado as críticas das autoridades e torceu o nariz quando uma de suas auxiliares locais resumiu a crise no Rio.
De volta a Brasília, Chioro tomou uma decisão revolucionária: demitiu a assessora.
José Casado
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