sábado, 16 de maio de 2020

Pior que São Tomé

Há anos não me sentia constrangida assim por ser brasileira. Mas está difícil aguentar meus conterrâneos, a quem é preciso ensinar como se lavam as mãos, durante a pandemia e fora dela. São piores que São Tomé, a quem Jesus precisou mostrar as chagas, para ser reconhecido depois de ressuscitado. Não acreditam nem mesmo no que veem: as estatísticas de mortes e contaminados pelo corona vírus, as fotos sobre centenas de sepultamentos, os depoimentos de quem se curou e dos que perderam alguém.

Vivo numa cidade praiana e, com dias tão ensolarados e azuis, muitos desprezam as orientações e vão surfar, caminhar no calçadão interditado, voar de ultraleve, fazer passeatas. Há grande pressão para a reabertura do comércio. Agora usam máscaras, por causa da multa imposta pelo prefeito, mas levam às ruas crianças pequenas sem a proteção, como se estivessem isentas do mal. Vejo muitas gestantes, também, e idosos longe de suas casas, desafiando a sorte.


Fora tudo isso, convivemos com uma intensa campanha de notícias falsas e demonstrações de fanatismo. Mais uma vez, amostras de São Tomé ao contrário acreditam em tudo o que o pastor ou o mito e seus ministros falam, sem qualquer comprovação científica. Aliás, corre um boato de que até o título de mito é falso, pois se trata de uma corruptela de palmito, como Bolsonaro seria apelidado na infância, por ter pernas muito brancas e finas. Fica a dúvida.

Na outra ponta, o isolamento social é o grande álibi para a incompetência dos prestadores de serviço que permanecem em atividade. Experimente fazer contato com algum SAC – Serviço de Atendimento ao Consumidor. Sua paciência será testada ao limite, nem sempre resultando em satisfação. Espere encomendas pelos Correios, novo teste de resiliência. É melhor não ter pressa.

O comprador de agora também está sujeito a explorações de todo o tipo. Uma grande rede de supermercados, “neste momento difícil que estamos passando”, oferece entrega das compras em domicílio. Há até um ramal para atender com exclusividade quem tem acima de 60 anos. Mas são vários os senões: a entrega não é feita em qualquer ponto da cidade, demora quatro dias úteis e é cobrada uma taxa salgada que, conforme os produtos escolhidos, pode sair mais cara que a mercadoria.

Sem falar nos golpistas de plantão. Recentemente, num município vizinho, foram flagrados estudantes de informática que anunciavam máscaras, álcool em gel e outros, em site fictício. Recebiam pelos produtos e jamais os entregavam, porque não existiam. A quadrilha foi identificada, mas, misteriosamente, ninguém acabou detido…

Vergonha de ser brasileira. Dizem que tudo passa, mas quando? Nesse caso, como Tomé, tenho fé, mas só acredito vendo.
Madô Martins

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