quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Quem semeia desordem no país

No submundo das tenebrosas transações, a salvo da bisbilhotice do distinto público, todo político desonesto se comporta como pessoa física: “Cadê a minha parte? Quanto ganharei por isso? Quando serei pago?”

Uma vez denunciado por atos indecentes, ele troca de identidade. A pessoa física dá lugar à pessoa jurídica. E é o cargo que ocupa ou a instituição que representa a atingida pelas acusações – ele, jamais!

Foi para o velho truque de sempre que apelou, ontem, mais uma vez o presidente Michel Temer pouco antes de voar à China. Às vésperas de ser denunciado pela segunda vez por corrupção, ele disse:

- Sabemos que tem gente que quer parar o Brasil, e esse desejo não tem limites. Querem colocar obstáculos ao nosso trabalho, semear a desordem nas instituições, mas tenho a força necessária para resistir.

Observem: Temer não diz que querem parar ele. Diz que querem parar o Brasil. Como se o fato de pará-lo, a ele, Temer, significasse parar o país. (Olha a pessoa jurídica aí, gente!)



Se perguntado à época, certamente ele não teria respondido que o processo de impeachment da então presidente Dilma era uma tentativa dos adversários dela de parar o país. Ele era um desses adversários.

Da mesma forma, Temer não teria dito que o impeachment, previsto na Constituição e monitorado de perto pela Justiça, semeava “a desordem nas instituições”.

A corrupção, essa sim, é que pode parar o país e semear a desordem. E todos os culpados por ela devem ser punidos para que não prospere o mau exemplo que deram. É simples assim.

Temer tem a força necessária para resistir aos danos da próxima denúncia contra ele a ser oferecida em breve pelo Procurador-Geral da República Rodrigo Janot. Como resistiu à primeira, e a enterrou.

Não a força que decorre do apoio dos brasileiros – essa não passa do magro percentual de 5% dos que o avaliam como um bom presidente. Mas daquela adquirida via compra de votos no Congresso.

Ocorre que o preço de cada vitória colhida por Temer no Congresso só faz aumentar. E quem paga por isso – aí, sim – não é ele, somos nós. Não saem do bolso dele os recursos para a compra de apoio. Saem dos nossos.

Ricardo Noblat

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