quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O que falta para enxergarem o que ameaça o futuro do país

O difícil para o colunista nem sempre é a falta, mas o excesso de assunto. Meu artigo já estava pronto e deveria estar no jornal, nas mãos do editor de Opinião, de acordo com o compromisso assumido, desde as 15h de anteontem. Antes de enviá-lo, a avalanche que desabou sobre a política, mas, na verdade, sobre minha cansada cabeça, por meio de mais uma “operação Limpa Brasil” (ou seria operação Lava Jato?), me deixou um pouco mais atordoado do que já estou.

Apesar dos longos (mais de meio século!) e incansáveis anos de estrada, vivo, sinceramente, nestes últimos tempos, momentos de absoluta perplexidade, embora ainda consiga conter a raiva. Às vezes, acho que estou vivendo um pesadelo, que vai acabar quando chegar a hora de despertar. Ou, então, um filme. Aliás, mais para um filme de horror, pois não creio ainda que tudo isso que estou vendo seja verdade.

O que se especula, no meio político e mesmo fora dele, é sobre quem, do contingente político, na República (que é coisa pública, leitor!), no Estado ou no município, será o próximo. Continuará a ser alguém do PT ou será do PMDB? Ou, ao contrário, o bicho, finalmente, vai pegar a oposição? Para mim, não haverá mais surpresas.

Por essas e por outras é que me pergunto e pergunto a você, leitor, e aos políticos que ainda têm um mínimo de honradez e dignidade (ou estou sendo ingênuo?): não teria já chegado a hora de um acordo entre a presidente da República, Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, com vistas à renúncia dos três? Pois estão – os três – implicados (trato, agora, só deles, bem como deixo de lado, por ora, o vice-presidente Michel Temer) em denúncias gravíssimas, de crimes diferentes.

A presidente Dilma, por exemplo, não será julgada pelo Código Penal, de vez que ainda não está sendo acusada (perdão, leitor, mas não posso deixar de usar o advérbio) de crimes nele previstos, mas de haver cometido crime de responsabilidade.

Por que não refletem sobre esse ato de grandeza e o assumem ainda (olhe aí, de novo, o advérbio) a tempo de receberem, no juízo da história, algum registro favorável? Não são seres humanos? São seres de outro planeta? Não se acham culpados pelo que têm feito à nação brasileira? Que falta aos três, finalmente, para que enxerguem, com desassombro, a realidade dramática que ameaça, por culpa deles, o futuro promissor e de paz do nosso país?

Vivemos, hoje, leitor, não apenas o mar de lama que cobriu de dor a bela e inesquecível Mariana, atolada que foi, uma vez mais, pela irresponsabilidade criminosa do poder público. Vivemos, sim, em meio a um mar de lama muito maior do que esse ou do que aquele que, um dia, foi objeto de vigoroso discurso de um grande e inesquecível mineiro, Afonso Arinos de Mello Franco.

Permita-me, leitor, o desabafo, que já vem de longe, de muitos anos, e que quase me sufoca. Não tenho tribuna, senão (ainda) a maior delas, a liberdade de expressão, que me permite, deste cantinho, suplicar aos três que, pelo menos uma só vez, dirijam o olhar sobre nosso sofrido povo e concluam depressa que tudo tem a sua hora, e a hora, agora, é de grandeza e desprendimento.

Deixe de lado as filigranas jurídicas, presidente, e não permita que seu governo se transforme num estuário de lama nem exploda na desordem. E confie na verdade. E, “se não é possível saber o que é a verdade, é perfeitamente possível saber o que é a mentira”.

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