É dizer muito quando se conhece como a história latino-americana é prenhe de escândalos formidáveis de corrupção.
O ponto alto do escândalo em curso foi a abertura de investigação a respeito de Luiz Inácio Lula da Silva, notícia que não escapou a nenhum jornal mais ou menos relevante do planeta.
"The New York Times" deu, aliás, um título significativo: "Brasil acrescenta ao inventário dos escândalos de corrupção a investigação de um ex-presidente".
Já estamos, pois, pelo menos aos olhos de um dos grandes jornais do planeta, com um dossiê tão formidável de corrupção que se transformou em inventário –algo que usualmente se faz post-mortem.
É natural, em assim sendo, que o público brasileiro sinta um cheiro nauseabundo de putrefação do ambiente político.
Claro que sempre é preciso ressalvar que todo mundo é inocente até prova em contrário –e a delação premiada não é suficiente como prova.
Mas o inventário a que se refere "The New York Times" está durando tempo demais, sem que haja culpados em definitivo, condenados pela Justiça ou inocentes definitivamente declarados, depois das investigações competentes.
É urgente acelerar as coisas, sem, claro, abandonar todas as cautelas que garantam uma investigação limpa e legítima e a preservação integral do direito de defesa.
Está na hora de o Judiciário, até agora o único dos três Poderes cuja cúpula não foi colocada sob suspeição, criar uma força-tarefa, em coordenação com o Ministério Público e a Polícia Federal, para encerrar o "inventário", mandando para a cadeia quem merecer e passando atestado de bons antecedentes para quem for inocente.
Um país, qualquer que seja, não pode conviver eternamente com a suspeita de que seus principais líderes e alguns de seus principais empresários são corruptos.
Como diz o subtítulo do artigo de sexta-feira, 17, de Pedro Luiz Passos, presidente do Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial, "sem solução do imbróglio político em que o país se meteu, a economia não voltará a crescer".
Uma parte importante do imbróglio é dada pela discussão cada vez mais escancarada sobre uma eventual defenestração da presidente Dilma Rousseff.
É importante deixar claro, nesse capítulo, que impeachment não é golpe, pela simples e óbvia razão de que está previsto na Constituição e –como diria o Conselheiro Acácio– o que é constitucional não é golpismo.
Feita essa ressalva, é indecente tratar do afastamento da presidente pelas costas, em conversas de bastidores entre altas autoridades.
Impeachment é algo que se tem de encarar de frente. Se alguém acha que há razões que justifiquem a abertura do processo (eu acho que não há), que as apresente de peito aberto no foro adequado.
Seria a única maneira decente de encerrar pelo menos parte desse sórdido "inventário".
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