domingo, 19 de julho de 2015

Sucupirópolis, do vagão rosa ao fuá grá

Primeiro Haddad sancionou a lei que proíbe a venda e produção de foie gras em São Paulo. Depois, no Rio, aprovaram o projeto do vereador Cesar Maia que transforma o sotaque carioca em bem imaterial da cidade. Ainda cabe o veto de Eduardo Paes, é verdade, assim como a iguaria das iguarias já está liberada na Pauliceia, entretanto os dois casos dizem muito sobre nossa vocação para a caipirice.

Claro que o episódio paulista foi mais emblemático. São Paulo é cinza, dura e raçuda, cidade impermeável aos estereótipos de uma nação tropical e portanto nada afeita a perder tempo com tolices. Digo, tivesse a praia ao invés do Ibirapuera, duvido que o paulista cairia na pataquada de bater palmas para o pôr do sol. Quando muito buzinaria em protesto, certamente atrasado para algo mais importante.

Fica a pergunta, como podem tentar impor um nível tão grotesco de provincianismo ao cidadão paulista, precisamente ao cidadão paulista, sortudo habitante de uma terra onde pelo menos fagulhas de cosmopolitismo ainda conseguem ser percebidas? De resto, apoiar a demonização de um alimento, sob o pretexto deste ser fruto de tortura aos animais? Fico exausto só de pensar no trabalho que deve dar levar-se tão a sério.

Já sobre a outrora Cidade Maravilhosa, o que dizer? Como carioca, lamento vê-la cada vez mais cafona, cara e perigosa. Eu, que sempre critiquei a masturbatória ladainha narcisista, como se beleza natural fosse mérito e não um tremendo golpe de sorte, hoje em dia me vejo obrigado a capitular, até por que não restou outro argumento.

Rio, São Paulo, Brasil. A verdade é que somos imbatíveis no quesito auto-elogio. Nossa vaidade é tanta que transborda e acaba se misturando a outras nojeiras como hipocrisia, demagogia e, claro, ao populismo. Ficamos sexualmente excitados quando damos de cara com a oportunidade de chafurdar no lugar comum, em regurgitar qualquer baboseira com a mínima pinta que seja de politicamente correta. E pouco interessa se de fato comungamos do ponto em questão.

Pois essa maneira de pensar subdividiu-se e deu luz a um falso “autoritarismo do bem”, este endossado em programas de tv, jornais e botequins. No fundo um subterfúgio, assim conseguimos fechar nossos olhos para questões espinhosas e ainda reforçamos a ilusão de sermos moralmente superiores.

Esses episódios mais recentes, tanto o do foie gras quanto o do sotaque carioca, são fanfarras, se comparados ao vagão exclusivo para mulheres, o veto de bebidas alcoólicas em estádios, a tresloucada proibição de armas brancas após um assassinato, sem esquecer das infinitas gratuidades e filas preferenciais.

Estou exagerando? Tudo bem, aceito a crítica. Tanto que convido você para um papo franco em qualquer bar ou restaurante do Espírito Santo, assim deixamos um pouco Rio e São Paulo de lado.

Em tempo: Pensei em algo simples, uma conversa regada a guaraná e batatas fritas, mas me lembrei que por lá, de olho na saúde da população, foi sancionada uma lei proibindo o saleiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário